Mulher que disparou contra Mussolini ficou esquecida há décadas

Publicado em: 27/03/2021 às 14:25
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Apenas quatro pessoas tentaram assassinar – e não foram bem sucedidas – o ditador fascista Benito Mussolini, que levou a Itália para a II Guerra Mundial e inspirou o nazista Adolf Hitler. Dessas quatro pessoas, apenas a anglo-irlandesa Violet Gibson chegou perto de ter sucesso.

Violet Gibson, de 50 anos, foi parar nas manchetes dos jornais em 7 de abril de 1926, quando disparou contra Benito Mussolini e quase alterou o curso da história para sempre. Contudo, nos anos após o ataque, Gibson foi enviada para um asilo e esse evento ficou esquecido por décadas.

Quase um século depois, o país natal de Gibson, a Irlanda, quer reconhecer o seu legado, de acordo com a BBC. A Câmara Municipal de Dublin aprovou recentemente uma moção dando a aprovação inicial para a instalação de uma placa em homenagem a Gibson.

As autoridades estão considerando a sua casa onde passou a infância, no Bairro Merrion Square, em Dublin, como um potencial local para o memorial.

Nascida em 1876, Gibson vinha de uma família rica chefiada pelo seu pai, Lord Ashbourne, uma figura judicial sénior na Irlanda. Quando jovem, segundo o Irish Post, serviu como debutante na corte da Rainha Vitória.

Com 20 e poucos anos, converteu-se ao catolicismo. Mais tarde, mudou-se para Paris para trabalhar em organizações pacifistas. Foram as apaixonadas crenças políticas e religiosas de Gibson que a levaram a tentar assassinar o ditador italiano em abril de 1926.

No dia do atentado, Mussolini acabava de fazer um discurso numa conferência de cirurgiões em Roma. O ditador estava caminhando pela Piazza del Campidoglio, uma praça no topo do Monte Capitolino da cidade italiana, quando Gibson – uma mulher pequena e “desgrenhada” – ergueu uma arma e disparou contra ele a queima-roupa.

Dois fatos casuais impediram Gibson de ter sucesso. Primeiro, Mussolini virou a cabeça para olhar para um grupo de estudantes que cantavam uma música em sua homenagem. Isso fez com que a bala atingisse a ponta do nariz em vez de acertá-lo no rosto. Em segundo lugar, embora Gibson tenha disparado outra bala, esta falhou (ficou alojada no cano da arma).

Gibson foi arrastada para o chão por uma multidão e a polícia escoltou-a antes que os espetadores se pudessem vingar. Horas depois do atentado, Mussolini reapareceu em público, com um penso no nariz.

De acordo com Frances Stonor Saunders, historiadora britânica que escreveu o livro ‘The Woman Who Shot Mussolini’, citada pelo The World, Mussolini ficou com vergonha de ter sido ferido por uma mulher.

“Ele era muito misógino, assim como todo o regime fascista”, disse. “Ficou chocado ao ser baleado por uma mulher. E ficou chocado ao ser baleado por uma estrangeira. Foi uma espécie de lesão ao seu grande ego”.

Gibson foi deportada para Inglaterra, onde os médicos a declararam louca. A sua família concordou em colocá-la num asilo para doentes mentais em Northampton. Enquanto estava presa, Gibson escreveu cartas implorando por sua libertação. As missivas, que eram dirigidas a pessoas como Winston Churchill e a princesa – e agora rainha – Elizabeth, nunca foram enviadas.

Gibson ficou trancada até à sua morte aos 79 anos, em 1956. Apesar de nenhum membro da família ter comparecido ao funeral, os parentes sobreviventes de Gibson expressaram o seu apoio a uma placa em sua homenagem.

“Agora é hora de trazer Violet Gibson aos olhos do público e dar-lhe um lugar de direito na história das mulheres irlandesas e na história da nação irlandesa e do seu povo”, disse o conselheiro de Dublin Mannix Flynn.

A história de Gibson atraiu a atenção internacional pela primeira vez em 2014, quando a jornalista Siobhán Lynam produziu um documentário de rádio que trouxe a sua vida notável para um público mais amplo. O programa baseou-se no livro de Stonor Saunders.

O marido da jornalista, Barrie Dowdall, atualmente está exibindo um documentário baseado na vida de Gibson em festivais internacionais de cinema. Clique aqui para assistir o trailer do documentário.



Fonte: Espaço PB com Zap (Maria Campos) – Foto: Italian Ministry of the Interior – contato@espacopb.com.br

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