João Pessoa abre mostra de obras de paraibano que revolucionou o design gráfico e a cenografia brasileira

Publicado em: 30/11/2021 às 06:25
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A última segunda-feira, 29 de novembro, marcou os 65 anos da morte de um dos artistas mais completos da história cultural paraibana: Tomás Santa Rosa (na foto), o “filho ilustre que a Paraíba esqueceu”, como ressalta o professor e jornalista Carmélio Reynaldo, lembrando que Santa Rosa revolucionou, por exemplo, a arte de capa de livros no Brasil.

E, para lembrar o artista, nesta quinta-feira (2), a partir das 10h, o Centro Cultural São Francisco, em João Pessoa, abrirá uma mostra de obras “desse filho da capital paraibana que revolucionou o design gráfico e a cenografia brasileira”, completa o professor Carmélio.

“São desenhos, telas e capas de livros, além de esboços de cenários e de figurinos para teatro pertencentes à coleção do também paraibano Luizmar Medeiros de Oliveira, colecionador que já realizou este ano, no mesmo Centro Cultural São Francisco, três outras mostras de obras de Flávio Tavares, de arte naif e de naturezas mortas.

Na abertura da mostra desta quinta-feira, haverá uma mesa redonda sobre a obra de Tomás Santa Rosa, reunindo a professora Bernardina Freire, o professor e artista plástico Chico Pereira e o designer Rildo Coelho, que obteve o título de mestre em Ciência da Informação com estudo sobre o artista.

Revolucionário

Tomás Santa Rosa Júnior nasceu na capital paraibana no dia 20 de setembro de 1909. Seus pais residiam na casa de número 320, na Rua da Areia. Em João Pessoa bacharelou-se em Ciências e Letras depois de ter estudado no Grupo Escolar Tomás Mindelo e no Lyceu Paraibano.

“Impressionado com o talento de Santa Rosa que, aos 9 anos, já chamava a atenção por sua arte, o governador da Paraíba na época, Camilo de Holanda, se dispôs a custear seus estudos na Europa, mas a mãe não aceitou separar-se do menino”, relata Carmélio Reynaldo.

Santa Rosa, conforme repete Carmélio, “revolucionou a arte de capa de livros no Brasil”. Tornou-se muito solicitado pelas maiores editoras e colocou sua marca em obras de José Lins do Rego, Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Américo de Almeida, Afonso Schmidt, Lúcio Cardoso, Mário de Andrade, Marques Rebelo, Rachel de Queiroz, Guimarães Rosa, Josué de Castro, Menotti del Picchia, Dinah Silveira de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade, entre outros.

Tomás Santa Rosa era negro e militou contra o racismo. Assim colaborou com Abdias do Nascimento e Ruth de Souza no Teatro Experimental do Negro. Nas propostas da companhia, a principal era colocar o artista negro como protagonista, quebrando as barreiras do preconceito racial que impunham a esses papéis secundários ou pitorescos. Nesse grupo foi cenógrafo e figurinista.

Santa Rosa também produziu cenários para outras companhias, incluindo peças de Nelson Rodrigues, óperas de Camargo Guarnieri e bailados de Villa-Lobos. Seu cenário para a peça ‘Vestido de Noiva’, de Nelson, tornou-se um marco na moderna cenografia teatral.

Seu ateliê, à Rua Santa Luzia, no Rio de Janeiro (RJ), por sua proximidade da Academia Brasileira de Letras, era muito frequentado pela elite intelectual carioca. Santa Rosa também foi também professor, jornalista e crítico teatral e de artes plásticas.

O célebre Stanislaw Ponte Preta, criador do Festival de Besteiras que Assola do País (Febeapá), foi, na verdade, uma criação de Tomás Santa Rosa, que deu a ideia para o jornalista Sérgio Porto. Em artigo publicado após a morte do amigo, Sérgio escreveu: “Foi ele que o imaginou, já lá se vão cinco ou seis anos, na redação do Diário Carioca. Chamou-me a um canto e disse: ‘Sérgio, vamos criar um personagem novo, um tipo cabotino, para comentar notícias sofisticadas, uma mistura de crítica teatral e café society’. Santa raramente demonstrava o seu entusiasmo pelas coisas. Parecia-me, no entanto, apaixonado pela ideia a ponto de tornar-se o primeiro ilustrador do Stanislaw. De manhã, na redação, pedia a matéria – ele mesmo escrevia alguns tópicos – e depois ilustrava os meus”.

Morte na Índia

O paraibano morreu em 1956, em Nova Delhi, na Índia, onde representou o Brasil na ‘Conferência Internacional de Teatro’, realizada em Bombaim. Em seguida, viajou para a capital indiana, onde acontecia a ‘Conferência Geral da Unesco’. Durante essa visita, teve uma crise renal, sendo acometido de fortes dores. Foi hospitalizado no final da noite de 27 de novembro, vindo a morrer na madrugada do dia 29, aos 47 anos.

Seu corpo foi recebido pelo presidente Juscelino Kubitschek e na imprensa brasileira recebeu homenagens “por gente do quilate” de Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Manuel Bandeira, Carlos Lacerda, José Lins do Rego, Mauro Mota, Marques Rebelo, Raimundo Magalhães Jr., Rachel de Queiroz, Joaquim Ribeiro, Paulo Mendes Campos e Otto Maria Carpeaux.

Na elegia que escreveu a Tomás Santa Rosa, Drummond colocou a Paraíba na geografia do poeta, ao lado da sua Itabira: “Meu caro Santa Rosa, que cenário/ diferente de quantos compuseste,/ a teu fim resolveu a sorte vária,/ unindo Paraíba e Índia de leste!/ (...) Meus livros são teus livros, nessa rubra/ capa com que os vestiste, e que entrelaça/ um desespero aberto ao sol de outubro/ à aérea flor das letras, ritmo e graça.” (trechos de ‘A Um Morto na Índia’, publicada no Correio da Manhã, na edição de 2 de dezembro de 1956).

Mais informações para a mostra com Augusto Moraes, curador do Centro Cultural São Francisco: (83) 99301-6443.



Fonte: Espaço PB – Jorge Rezende com Carmélio Reynaldo – Foto: Reprodução – Contato: jorgerezende.imprensa@gmail.com

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