Esquerda derrota extrema-direita e Chile tem novo presidente com apoio do Partido Comunista

Publicado em: 19/12/2021 às 20:30
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O candidato de esquerda Gabriel Boric foi eleito presidente do Chile neste domingo (19). Aos 35 anos, Boric foi deputado e líder estudantil. Numa eleição marcada pela polarização política, ele venceu o advogado José Antonio Kast, de ultradireita, que no Brasil tinha a simpatia dos seguidores do presidente Jair Bolsonaro (PL). Kast informou em rede social que telefonou para o rival reconhecendo a derrota e parabenizando-o pela vitória.

Até as 19h40 deste domingo, com 92,12% das urnas apuradas, Boric tinha 55,7% dos votos, contra 44,3% de Kast. Boric havia ficado em segundo lugar no primeiro turno, com 25,82%. Já Kast teve 27,91%. É a primeira vez desde a redemocratização, três décadas atrás, que um candidato que não venceu o primeiro turno chega à presidência.

Boric e Kast representaram lados opostos do espectro político e disputaram cada voto do eleitorado. O novo presidente representa uma esquerda progressista revitalizada, que cresceu muito desde os protestos de 2019. Já Kast fundou o ultraconservador Partido Republicano e avalizou a mensagem “lei e ordem” na campanha.

Boric disputou a presidência do Chile com a idade mínima exigida e foi o mais jovem dos sete candidatos na disputa pela sucessão do conservador Sebastián Piñera. Sua candidatura representa a coalizão ‘Aprovo Dignidade’, que reúne a Frente Ampla e o Partido Comunista.

Sua maior crítica à democracia após a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) é ter continuado com o modelo econômico liberal que deixou uma classe média e baixa endividada para pagar a educação, a saúde e a previdência privada. Liberal em temas sociais, o novo presidente defende “um estado de bem-estar” ao estilo europeu na área econômica.

Solteiro e oriundo de Punta Arenas, no extremo sul do país, Boric cresceu no seio de uma família simpática aos partidos Socialista e Democrata-Cristão. “Sou da Patagônia Austral, onde começa o mundo, onde se fundem todos os contos e a imaginação, no Estreito de Magalhães, que inspirou tantos romances”, disse, orgulhoso de sua região.

Ele afirmou ainda que quer para o Chile “algo que na Europa seria bastante óbvio, que é garantir um estado de bem-estar para que todos tenham os mesmos direitos, independentemente de quanto dinheiro possuem na carteira”, resumiu.

Em Valparaíso, Gabriel Boric, candidato da aliança de esquerda, fala no comício de encerramento de sua campanha em 18 de novembro. — Foto: Martin Bernetti/AFP

Alguns pontos do programa de governo de Boric: foca em três reformas que ele considera essenciais: previdência, saúde e educação; outras três temáticas que permeiam as propostas: feminismo, crise climática e trabalho digno; amplia a participação do estado para o bem-estar social; há elementos mais moderados em seu programa, como a reforma tributária; e mudança do sistema de pensões.

O novo presidente governará um país com uma nova Constituição, agora em elaboração, e marcado pela inflação crescente nos últimos dois anos. Foi a primeira eleição presidencial desde que o país foi abalado pelos protestos generalizados contra a desigualdade que renderam meses de marchas e episódios de violência nas ruas, em 2019.

As eleições presidenciais de 2021 também foram as primeiras em 16 anos sem Sebastián Piñera nem Michelle Bachelet como candidatos a presidente. Piñera é o atual presidente, mas enfrenta forte rejeição popular e acabou de escapar de um processo de impeachment. Já Bachelet é hoje alta comissária da ONU para os Direitos Humanos.

Resultado do primeiro turno

O resultado do primeiro turno, em 21 de novembro, foi apertado na disputa pela presidência do Chile. A liderança ficou com o candidato de extrema-direita, José Antonio Kast. Já o segundo candidato mais bem posicionado foi Gabriel Boric, da esquerda. Assim como no Brasil, para vencer as eleições já no primeiro turno, o candidato precisava ter mais de 50% dos votos válidos, o que não ocorreu.

Como nenhum dos candidatos conseguiu uma liderança folgada no primeiro turno, eles dependeram também dos eleitores mais moderados para obter a vitória.

Primeiro turno das eleições

José Antonio Kast (Partido Republicano): 27,91%

Gabriel Boric (Convergência Social): 25,82%

Franco Parisi (Partido da Gente): 12,81%

Sebastián Sichel (Independente): 12,79%

Yasna Provoste (Partido Democrata Cristão): 11,60%

Marco Enríquez-Ominami (Partido Progresista): 7,60%

Eduardo Artés (Unión Patriótica): 1,46%



Fonte: Espaço PB com G1 – Foto: Andres Poblete – Contato: jorgerezende.imprensa@gmail.com

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