Após um ano do golpe contra Evo Morales, Luis Arce toma posse como presidente da Bolívia

Publicado em: 08/11/2020 às 19:50
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O presidente eleito na Bolívia, Luis Arce, tomou posse neste domingo (8), ao lado do vice David Choquehuanca. Em seu discurso de posse, ele pregou a união, exaltou a democracia e afirmou que este é o início de uma nova etapa na história do país depois do golpe perpetrado contra Evo Morales no ano passado.

Na última quinta-feira (5), Arce sofreu um atentado em La Paz. Uma dinamite explodiu na frente da sede do comitê de campanha do partido, segundo o porta-voz do Movimento ao Socialismo (MAS), Sebastián Michel. Arce estava no comitê quando uma banana de dinamite foi arremessada na porta do imóvel. Não houve feridos ou danos materiais.

Arce, ex-ministro de Morales e considerado o “cérebro” das reformas econômicas, obteve 55,1% dos votos válidos. Seu principal rival na disputa, o ex-presidente Carlos Mesa, atingiu 29% dos votos, e se recusou a reconhecer a derrota. A cerimônia de posse ocorreu um ano após a renúncia forçada de Evo Morales, que estava democraticamente há quase 14 anos à frente dos destinos do país.

Discurso

A cerimônia ocorreu na sede da Assembleia Legislativa. Em seu discurso de posse, Arce falou sobre o triunfo da democracia através do voto e ressaltou que os eleitores escolheram a paz e a estabilidade. “A partir de 10 de novembro de 2019, depois de 21 dias em que se escamoteou a vontade popular expressada nas urnas, a Bolívia foi cenário de uma guerra interna e sistemática contra o povo, especialmente os mais humildes”, afirmou.

“Se espalhou morte, medo e discriminação. Encrudesceu o racismo e se usou a pandemia para prorrogar um governo ilegal e ilegítimo”, afirmou Arce. “Não é o ódio que impulsiona nossos atos, mas uma paixão pela Justiça”, afirmou. “Neste 8 de novembro de 2020 iniciamos uma nova etapa na nossa história, e queremos fazer um governo que seja para todas e para todos, sem discriminação de nenhuma natureza”, declarou o presidente.

Arce citou a pandemia e disse que o país retrocedeu em conquistas recentes, com queda do Produto Interno Bruto de 11%. Depois, acusou o governo provisório pós-golpe de má gestão durante a crise sanitária e econômica provocada pelo novo coronavírus. O vice-presidente David Choquehuanca falou antes de Luis Arce. Ele citou os indígenas da Bolívia, os povos originários, e pregou a união, falando sobre “conciliar ideias da direita e da esquerda”.

“Novo tempo”

Antes da posse, Arce afirmou que a Bolívia “inicia um novo tempo” e agradeceu aos eleitores. “A Bolívia inicia um novo tempo. Agradecemos às mulheres e aos homens bolivianos que de todo o país nos acompanham na ascensão ao comando presidencial”, escreveu em uma rede social. Evo Morales, exilado na Argentina, escreveu que este domingo “é um dia histórico”.

“Hoje, 8 de novembro, é um dia histórico para a posse de Arce e a recuperação da democracia exatamente um ano após o motim policial em 8 de novembro de 2019. Vencemos a batalha apenas com a consciência do povo, sem violência”, escreveu Morales. O ex-presidente declarou que voltará à Bolívia nesta segunda-feira (9).

A renúncia forçada de Morales ocorreu em meio a uma mobilização promovida por golpistas que tiveram o apoio e a aprovação dos presidente dos Estadus Unidos, Donald Trump, e do Brasil, Jair Bolsonaro (sem partido), com o motim de grande parte dos policiais bolivianos e à pressão por renúncia de Morales perpetrada por uma parcela das Forças Armadas.

Líderes na posse

Vários chefes de estado acompanharam a cerimônia, como o presidente da Argentina, Alberto Fernández; o chanceler da Venezuela, Jorge Arreaza; além do ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Yavad Zarif, que já se reuniu com Arce e Choquehuanca, segundo a rede de notícias Telesur.

O rei espanhol Felipe VI também está em La Paz, ao lado do vice-presidente e líder do Podemos, Pablo Iglesias. Também comparecem à cerimônia uma delegação dos Estados Unidos chefiada pelo subsecretário da Fazenda para Assuntos Internacionais, Brent Mclntosh. Iván Duque, presidente da Colômbia; Mario Abdo Benítez, presidente do Paraguai; e o ex-presidente do Panamá, Martín Torrijos, também eram esperados, assim como Wálter Martos, chefe do Conselho de Ministros do Peru; Francisco Carlos Bustillo e Andrés Allamand, chanceleres do Uruguai e do Chile, respectivamente.

Cerimônias ancestrais

Antes do ato formal da posse, foram feitas cerimônias ancestrais. Um grupo de “amautas” ou sábios espirituais indígenas aimarás preparou um altar com oferendas para a Pachamama, ou Mãe Terra, na Plaza Murillo de La Paz, onde está localizado o Palácio do Governo e a sede do Legislativo boliviano. O ritual de gratidão à Pachamama foi para pedir à divindade andina que dê força ao novo governante, segundo a Telesur.



Fonte: Espaço PB com G1 – Foto: Jorge Mamani – contato@espacopb.com.br

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