Em hotel histórico, hóspede pode dormir com a cabeça em um país e os pés em outro

Publicado em: 29/01/2023 às 18:35
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De um corredor a outro e até na mudança de degrau em uma escada, o hóspede pode ir da França à Suíça sem se dar conta de que cruzou uma fronteira entre dois países europeus. É assim que o Hotel L’Arbézie se apresenta aos seus visitantes como um espaço único, já que está localizado bem em cima “da linha” fronteiriça entre esses dois países. E tudo isso começou há 160 anos com um contrabandista.

Construído no século XIX, o Hotel L’Arbézie tem o típico estilo alpino de tantos outros estabelecimentos procurados por turistas adeptos dos desportos de inverno nas montanhas da Suíça. Mas a sua história é inigualável. Esse hotel único fica situado em cima da fronteira entre a França e a Suíça, no “coração” do Parque Natural do Haut-Jura e Vaudois, a cerca de duas horas de carro da cidade francesa de Lyon, e próximo do Lago Léman, o maior da Europa ocidental, que banha Genebra, a capital suíça.

Segundo o site oficial do hotel, o estabelecimento também tem um restaurante com “cozinha de montanha, simples e saborosa, onde a França e a Suíça se unem no prato”. Essa situação começou com um tal de Ponthus que, em dezembro de 1862, foi diretamente afetado pelas novas fronteiras redesenhadas por Napoleão III, da França, no âmbito do Tratado de Drappes.

A nova fronteira entre França e Suíça atingiu a propriedade de Ponthus que decidiu construir o seu negócio mesmo em cima do traço divisório. Uma ideia que tinha “muita má intenção por trás”, uma vez que ele se dedicava ao contrabando. E a oportunidade surgiu como uma forma de fugir às autoridades dos dois países.

Assim, entre a proposta de Napoleão III e a consumação das novas fronteiras, em 1863, ele construiu uma loja no lado suíço e um bar no lado francês, como relata o site do L’Arbézie. Foram os descendentes de Ponthus que, mais tarde, transformaram o espaço em um hotel franco-suíço.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o hotel era a divisória entre a zona ocupada pelos alemães e a zona livre. Nesse período, dada a essa situação particular, tornou-se num “quartel da resistência” contra os nazistas, ajudando a esconder judeus, fugitivos e até pilotos ingleses. Após a guerra, os donos do estabelecimento foram recompensados pelo general francês De Gaulle pelos “atos de bravura nesse período”.

Foi também depois desse conflito mundial que as autoridades suíças e francesas chegaram a um acordo: “o hotel seria considerado suíço pelos franceses e francês pelos suíços”. A situação inédita levou ao então dono, Max Arbez, a proclamar em 1958, com sentido de humor, o Principado de Arbézie. E Max até dotou a sua “micronação” com uma bandeira própria em formato triangular, tal como a propriedade, e com um brasão.

Em 1962, o local foi palco das negociações que puseram fim à guerra da Argélia, com a posterior assinatura dos Acordos de Evian. O site do Arbézie conta que foi lá que se realizaram as preliminares desse tratado com as autoridades francesas com representantes da Frente de Libertação Nacional da Argélia, que chegavam ao local vindos de Vaud, na Suíça.

Um quarto para uma ou duas pessoas custa nesse hotel histórico a partir de 89 euros. Para três pessoas, os preços começam nos 109 euros, e para uma família de quatro pessoas, com dois adultos e duas crianças, o valor é a partir dos 129 euros. Para uma temporada maior, tipo pensionato, os valores começam nos 124 euros por pessoa ou nos 169 euros por duas pessoas.



Fonte: Espaço PB com Portal Zap (Suzana Valente) – Foto: Reprodução – Contato: jorgerezende.imprensa@gmail.com

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