De Barões da Pisadinha a Lionel Richie: sobra criatividade em jingles para as eleições municipais

Publicado em: 25/10/2020 às 17:15 - Atualizado em: 25/10/2020 às 17:16
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Pode ser uma ideia original, a paródia de um sucesso musical antigo ou a carona no hit do momento. A fonte de inspiração pode até variar, mas o que não muda mesmo é a presença dos jingles nas campanhas eleitorais espalhadas pelo país. Com tantos ritmos à disposição, sobra criatividade para os candidatos que tentam conquistar os eleitores.

Segundo Paulo de Tarso, publicitário e especialista em campanhas eleitorais em entrevista ao site Brasil 61, a música é um instrumento fundamental para carregar a mensagem dos candidatos. Ele destaca, também, o papel de mobilização do jingle. “Você imagina uma campanha militar que não tenha um hino, uma marcha, que faça os soldados caminharem para a guerra com mais força. O jingle é um pouco isso quando, de fato, ele se torna universal. Ele mobiliza a militância, o povo, em geral, e os candidatos no sentido mais completo”, acredita.

Um jingle bem feito pode não só ajudar um candidato a se tornar conhecido, mas a entrar para a história. Os mais velhos, por exemplo, devem se lembrar do famoso ‘Varre, varre, vassourinha’, que embalou a campanha do ex-presidente Jânio Quadros, na década de 1960. “Não são muitos os jingles que ficam na história, mas os que ficam quase não são ultrapassados. São citados sempre, passam de geração a geração”, completa Paulo.

Na Paraíba, o caso mais famoso é do atual deputado estadual Lindolfo Pires (Podemos) – na foto. Em 2010, quando candidato a uma cadeira da Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB) pelo DEM, usou como jingle de campanha uma paródia da música ‘Beat It’ do cantor norte-americano Michael Jackson (clique aqui para escutar o jingle). O material estourou nas redes sociais em todo o Brasil e chamou a atenção até fora do país.

A letra do jingle de Lindolfo continha os seguintes dizeres: “O dia tá chegando, pode se preparar. Vinte cinco cento e onze pode digitar. Na hora de optar, você sabe em quem votar, Lindolfo Pires...”. Após enorme repercussão, o jingle criou polêmica devido aos direitos autorais, envolvendo a Sony Music, detentora dos direitos autorais no Brasil das músicas de Michael Jackson. O caso foi parar no departamento jurídico da empresa.

A paródia da música ‘Beat It’ foi uma sugestão de um amigo do então candidato Lindolfo e não tinha o objetivo e a pretensão de criar repercussão, já que o jingle principal da campanha era do cantor e compositor Capilé. “O jingle não tinha finalidade econômica e por isso não vimos constituição de crime. O jingle foi retirado do site e resolvemos a questão da melhor forma possível”, lembra o advogado Washington Rocha, assessor jurídico do deputado Lindolfo Pires em 2010.

Paródias

De lá para cá, os candidatos têm tomado um gosto especial pelas paródias. Produtor musical e radialista em Teixeira de Freitas, na Bahia, Patrik Reis, afirma que a ideia de muitos concorrentes aos cargos públicos é surfar nos hits que estão em alta no momento. São os verdadeiros camaleões musicais. “Têm aqueles que gravaram o sucesso de um ano e querem um novo hit. Por exemplo, o cara que gravou Wesley Safadão há quatro anos, esse ano está gravando Barões da Pisadinha”, exemplifica.

A cena que já foi dominada pelo sertanejo e o arrocha, por exemplo, hoje pertence ao forró de pisadinha, o ritmo do momento e mais pedido pelos candidatos para embalar os jingles em 2020. Patrik conta que grava cerca de dez jingles de pisadinha por dia. “É muita pisadinha”, brinca.

As paródias no embalo de sucessos internacionais são escolhas que nunca saem de moda. E neste ano, uma chama a atenção. Candidato a vereador de Esteio, município do Rio Grande do Sul, Nairon de Souza “quebrou a banca” ao parodiar uma música do mega artista norte-americano Lionel Richie.

O hit dançante ‘All Night Long’, indicado ao Grammy de canção do ano em 1983 virou o ‘Oh, Nairon’, um chiclete, difícil de desgrudar da cabeça. O convite da música original para festejar, expresso nos versos “Everybody sing, everybody dance”, agora é “Somos Nairon, sim, somos Nairon sempre”. E como jingle político que se preze, o refrão marcante faz questão de destacar o nome e o número de candidato.

O produtor musical, Patrik Reis explica que uma das funções mais importantes do jingle é “massificar” o nome e o número do candidato. Esses elementos simples combinados ao ritmo certo podem fazer o hit estourar. “Se o cara tem um nome e números fáceis, isso faz com que a música dentro do ritmo certo vire chiclete, todo mundo começa a cantar e aí fica martelando na cabeça”.

Paulo de Tarso, que também é membro do Clube dos Profissionais de Marketing Político, explica que existe a obrigatoriedade do número e do nome na canção, o que, muitas vezes, atrapalha a musicalidade e a poesia. Ele dá dicas do que os candidatos devem levar em conta ao pensar em um jingle. “Não pretenda discursar no jingle. O jingle não é lugar de discurso, é lugar de entusiasmo, poesia, emoção”, indica.

Batalha jurídica

Por enquanto, o caminho para as paródias de músicas para uso em campanhas políticas está aberto. Principalmente depois que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) deu ganho de causa ao deputado federal Tiririca em uma disputa com o cantor Roberto Carlos. A gravadora do rei questionou o uso do refrão “Eu voltei, agora pra ficar, porque aqui, aqui é o meu lugar”, que nas mãos de Tiririca virou o “Eu votei, de novo vou votar, Tiririca, Brasília é seu lugar”, na campanha de 2014.

Na decisão, a 3ª turma do STJ disse que a alteração de canção em programa político deve ser considerada paródia, isenta de autorização e de pagamento de direitos autorais, uma vitória para a criatividade e irreverência nas campanhas pelo país.



Fonte: Espaço PB com jornal A União – Foto: Agência-ALPB – contato@espacopb.com.br

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