Com novas adesões, manifestos pró-democracia puxam 'onda' e veem espaço para crescer

Publicado em: 02/06/2020 às 10:52
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Iniciativas suprapartidárias surgidas nos últimos dias para defender a democracia e reagir ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) viram o número de adesões disparar nesta segunda-feira (1º), em meio a um clima que tem sido comparado ao das Diretas Já. A lembrança é evocada porque, assim como o movimento de 1984, a onda de manifestos de agora une adversários ideológicos e começa a abraçar cidadãos comuns, para além de líderes sociais e políticos, artistas e personalidades.

Os expoentes da nova leva são o Movimento Estamos Juntos que foi lançado no sábado (30) e alcançou nesta segunda a marca de 224 mil assinaturas, a campanha Somos 70% criada a partir da iniciativa anterior e viralizada nas redes sociais e o Basta! que agrega advogados e juristas. Com a repercussão, entidades se pronunciaram nesta segunda em defesa de pilares constitucionais. A seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil divulgou uma conclamação pública, pedindo que a sociedade diga "um veemente não às ameaças de quebra da ordem democrática".

A Federação Nacional dos Advogados também publicou nota para conclamar os profissionais a "defender as instituições e os valores que conformam a democracia". O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), replicou em rede social mensagem do deputado federal Fábio Trad (PSD-MS) afirmando que "liderar é saber o momento de superar diferenças para unir forças pelo essencial".

Sem citar os manifestos, Trad pediu que políticos como o próprio Maia, os ex-presidenciáveis Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e João Amoêdo (Novo), o ex-presidente Lula (PT) e os governadores João Doria (PSDB-SP) e Flávio Dino (PCdoB-MA) "se deem as mãos em nome da nossa democracia". No Estamos Juntos, que tem um site aberto para qualquer pessoa declarar apoio, a quantidade de adesões dobrou de domingo para segunda. A página contabilizou 8 milhões de acessos, segundo a organização.

O movimento informou ainda que foram criados grupos de WhatsApp (120 no total) para espalhar a iniciativa em todos os estados do país. Há um esforço para manter o caráter suprapartidário da ideia e evitar uma personalização. A lista inicial de apoios tinha, por exemplo, os músicos Lobão (um bolsonarista arrependido) e Caetano Veloso (que sempre criticou o presidente e declarou voto no petista Fernando Haddad no segundo turno de 2018).

Nas últimas horas, de acordo com porta-vozes da coalizão, os dois cantores ganharam a companhia de anônimos de profissões variadas, que vão de doméstica a bancária, de motorista de Uber a bartender, de cozinheira a petroleira. Muitos desempregados também se engajaram. De nomes conhecidos, foi registrada a adesão do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que saiu do cargo após ser fritado por Bolsonaro já em meio à pandemia do novo coronavírus. Os ex-presidentes do Banco Central Arminio Fraga e Pérsio Arida foram outros que aderiram.

Líderes do grupo, contudo, veem a necessidade de ampliar ainda mais o alcance. Uma live está sendo planejada para os próximos dias, no esforço de atrair apoios e visibilidade. A ideia é reunir na transmissão ao vivo pela internet parte dos artistas que militam na causa. Como noticiou o Painel, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), a OAB e centrais sindicais também organizam uma live pró-democracia, com crítica indireta ao presidente da República.

Criador da hashtag #somos70porcento, que faz referência à aprovação de cerca de 30% dos brasileiros a Bolsonaro registrada em pesquisas, o economista Eduardo Moreira afirmou nesta segunda no Twitter que um vídeo de divulgação da campanha sofreu ataques de perfis bolsonaristas. "Acertamos o alvo... O outro lado gritou", escreveu. Na gravação, ele diz: "Nós somos a maioria. Nós somos mais do que o dobro deles. Nós temos o direito de escolher o caminho deste país".

O Basta!, manifesto encabeçado por advogados, afirmou ter angariado mais de 25 mil adesões desde o início da coleta de assinaturas, no sábado. A petição pró-democracia, que tinha 700 subscreventes no documento inicial, está disponível no site Change.org. Segundo os organizadores, quatro ex-ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) acabam de se somar ao grupo: Cezar Peluso, Eros Grau, Nelson Jobim e Sepúlveda Pertence. Sylvia Steiner, ex-juíza do Tribunal Penal Internacional, também endossou o texto.

Os articuladores dizem estar acompanhando os desdobramentos da crise política e das mobilizações e não descartam publicar atualizações do conteúdo se for necessário.



Fonte: Espaço PB com G1 – Redação: contato@espacopb.com.br

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