Bombeiro, amigo de Lessa, tentou dar sumiço ao celular pessoal antes de ser preso pela Polícia Civil

Publicado em: 12/06/2020 às 20:43
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Até a prisão do sargento do Corpo de Bombeiros Maxwell Simões Corrêa, de 44 anos, na última quarta-feira, o celular pessoal do bombeiro, objeto considerado importante nas investigações, estava desaparecido. No entanto, após Suel, como é conhecido por seus pares, ser levado para a delegacia, os agentes encontraram o telefone dentro do edredom da filha, no quarto das crianças. Os investigadores acreditam que ele tenha dado sumiço no aparelho pouco antes da chegada da polícia. 
 

A apreensão só foi possível com a colaboração da vendedora Aline Siqueira, mulher do militar. O bombeiro é apontado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) como cúmplice do sargento da PM Ronnie Lessa, acusado das mortes da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, há dois anos e três meses.

Segundo os investigadores, o bombeiro teria emprestado o carro para o descarte de armas de Lessa, no dia seguinte à prisão do PM, em março do ano passado. Entre o armamento, que teve como destino final as profundezas do mar da Barra da Tijuca, próximo às Ilhas Tijucas, estaria a metralhadora HK MP5 usada no crime.

A demora do sargento do Corpo de Bombeiros em abrir a porta alertou os investigadores, na manhã de quarta-feira,  de que o militar estaria tentando se desfazendo de provas. De imediato, os agentes arrombaram a porta. Em um primeiro momento, depois de vasculharem por cerca de três horas o imóvel, uma casa num condomínio de classe média no Recreio dos Bandeirantes, o celular não foi localizado. Como o militar estava sendo monitorado, os policiais e a promotoria sabiam que ele fazia uso intenso do aparelho.

Além de checar armários e paredes, os investigadores fizeram buscas embaixo do assoalho e até no telhado. Havia a desconfiança de que houvesse algum fundo falso que servisse de esconderijo. Na casa, só Aline estava com o telefone, que não foi apreendido. Entretanto, em um segundo momento, o aparelho foi encontrado. Além disso, documentos foram levados pelos policiais para serem analisados.

De acordo com as investigações, Suel teria um telefone exclusivo para comandar possíveis negócios ilícitos, como a exploração dos serviços de TV a cabo e internet clandestinos (gatonet) em favelas das zonas Norte e Oeste. Os agentes apuram ainda de onde vem o dinheiro do bombeiro, que está sendo investigado também por lavagem de dinheiro. A defesa nega que Suel tenha enriquecido de maneira ilegal. 

O bombeiro, que é lotado no Grupamento de Busca e Salvamento da Barra, tem um patrimônio incompatível com sua renda. Com soldo de cerca de R$ 7 mil, sem os descontos, o militar vive numa casa com piscina avaliada em R$ 1,9 milhão pelo mercado imobiliário, no Recreio dos Bandeirantes.

Mas o que surpreendeu as promotoras do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ, Simone Sibílio e Letícia Emile, que acompanharam a ação, foi encontrar um veículo BMW, com valor no mercado de R$ 172 mil, na garagem do imóvel. O IPVA do carro é mais elevado do que os vencimentos do militar.

Embora o titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DH), Daniel Rosa, encarregado do inquérito da morte de Marielle e Anderson, tenha ficado otimista com a prisão de Suel, ele ainda não revelou nada que pudesse ajudar a elucidar o caso. Depois de ficar quase seis horas na DH, o bombeiro foi levado ao Instituto Médico-Legal (IML) do Centro, para exame de corpo de delito. Em seguida, foi transferido para a Penitenciária do Corpo de Bombeiros, localizada em São Cristóvão, na Zona Norte.

Leandro Meuser, que defende o militar, negou que Suel seja miliciano. Disse ainda que ele poderá provar como adquiriu seu patrimônio. Eu acredito que ele não tenha envolvimento com a milícia. Eu não conversei com ele sobre isso afirmou Meuser. O meu cliente não tem perfil de miliciano. Ele me disse que tem outras rendas. Acredito que ele não seja da milícia.

Aquela casa não é dele. Perguntei ao meu cliente sobre sua renda, já que ele não poderia ter um imóvel daquele tipo com o salário que ganha no Corpo de Bombeiros. Maxwell me contou que tem outras rendas e que, inclusive, foram declaradas. Posso afirmar que ele tem dinheiro suficiente para ter os bens que tem. Ele não vive só do soldo de militar concluiu Meuser, que também negou a participação do bombeiro no descarte das armas de Lessa.

O advogado, no entanto, confirmou a amizade entre Suel e Lessa. Ele disse que pretende impetrar um pedido de habeas corpus em favor do cliente nos próximos dias, mas se queixou de não ter acesso ao inquérito contra o bombeiro. O titular do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DGHPP), delegado Antônio Ricardo Lima Nunes, não acredita na versão do bombeiro. Podemos afirmar que sua renda não é compatível com os bens que ele tem. O Suel está sendo investigado por lavagem de dinheiro e, futuramente, poderá até ser indiciado por isso, declarou.

Sobre as acusações da Polícia Civil em relação à obstrução de justiça no Caso Marielle, a defesa de Suel garante que não houve.



Fonte: Espaço PB com OGlobo – Redação: contato@espacopb.com.br

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