Artistas da Paraíba ressaltam a importância do Dia do Orgulho LGBTQ+

Publicado em: 28/06/2020 às 13:23
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Neste domingo (28) é celebrado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQ+ e artistas paraibanos que fazem parte da luta contra a homofobia, bifobia, transfobia e principalmente no combate à violência por causa da identidade de gênero e orientação sexual falam que a data, apesar de simbólica, é de extrema☺ importância para conscientizar a sociedade de que todos os seres humanos são iguais apesar das diferenças.

Bia 'Bixarte' Manicongo, poetisa, rapper, MC e atriz

Bia Manicongo tem 19 anos e é poetisa, MC, rapper e atriz. Bia começou cedo no campo das artes, entrando no teatro aos seis anos e se lançando como poetisa, por meio do slam, como são conhecidas as batalhas de poesia, aos 17 anos.

Nascida em Santa Rita, Região Metropolitana de João Pessoa, desde pequena já se sentia como mulher, apesar de ainda usar o nome de batismo. Há poucos anos, adotou de vez a identidade travesti, com o nome artístico de Bixarte, que carregou consigo quando representou a Paraíba na final do Campeonato Brasileiro de Slam (Slam BR), em São Paulo, em 2017.

“Ser uma MC travesti dentro da cena do rap no Brasil é ter várias lutas ao mesmo tempo: contra o sistema, contra a massa gourmetizada que deslegitima tanto nossa potência enquanto artista como nossa mulheridade. Meu trabalho enquanto rapper é entrar na indústria musical e afirmar que o meu corpo é potência e força. É mostrar para as bichas, lésbicas, bissexuais, não binários e travestis que nós podemos ser o que quisermos ser”, conta Bixarte.

A artista, que recentemente lançou um disco de remix da sua mixtape “Faces”, diz que falar do Dia do Orgulho LGBTQ+ é lembrar que a luta contra o preconceito - e sobretudo contra a violência - é constante.

“Vivemos em um país que mais mata LGBT, que mais vulgariza e assassina mulheres trans, portanto, nosso orgulho é das LGBTs que estão ocupando lugares de acesso e dando a cara à tapa para que todas nós possamos viver. Que a gente fique viva e celebre o amor, o amor que nós temos e sentimos dos nossos”, completa.

Bixarte tem três EPs lançados, “Revolução”, “Faces” e “Faces - Remix”, e em novembro deve lançar o primeiro álbum de estúdio, intitulado “Traviarcado”. Toda a obra de Bia Manicongo é pautada na luta LGBTQ+, além de canções de combate ao racismo, gordofobia, xenofobia, entre outros temas dos direitos humanos.

Aquiza, multi-instrumentista e professor

Alexsandro é músico e gay, mas é conhecido como Arquiza. Começou a ser drag queen com 22 anos, entre 2016 e 2017. Além de drag queen, Arquiza é multi-instrumentista e já tocou na Orquestra Jovem da Paraíba, na Orquestra Sinfônica da Paraíba e atualmente faz parte da Orquestra Municipal de João Pessoa, além de dar aulas de viola em um projeto social no bairro do Alto do Mateus.

Para Arquiza, o início como drag queen foi difícil, pois não conhecia ninguém do meio e aprendeu tudo só. Depois de um tempo, as coisas simplificaram, mas ainda assim há dificuldades.

"Todo trabalho que tem um LGBTQ+ botando a cara, se reinventando, se posicionando, é difícil".

Durante todo o mês de junho a comunidade comemora o mês do Orgulho LGBTQ+, mas a data principal é celebrada neste domingo (28).

“A data é de extrema importância porque a gente viveu durante muito tempo escondida, era uma parte da sociedade que queriam esconder. O mês faz lembrar que as pessoas que a gente existe e acima de tudo resiste. É quando a comunidade se une em prol dos nossos direitos, em prol de reivindicar nossa liberdade de ir e vir, de amar, de se expressar”, disse Arquiza.

DJ Toinha, drag queen e produtora

A também drag queen Deejay Toinha começou entre 2010 e 2011 com vídeos no YouTube. Depois, Toinha começou a trabalhar como DJ em festas de João Pessoa. Para a drag, faltam oportunidades para as artistas em João Pessoa.

"A cena Drag de João Pessoa atual é uma cena escassa, pois não se tem muito atrativo para drags, temos muitos talentos, mas poucos espaços para serem preenchidos, deixando esse lado artístico quase que sem opções".

Para a artista, a importância dessa data é impar. "Ela representa o suor de muitas pessoas que se colocaram na linha de frente pra que nós hoje tenhamos uma vida melhor, com alguns direitos sociais. Na verdade, ainda tem muito chão pra se andar, mas a cada dia se conquista algo mais, e isso é muito importante, porque sem voz, nós não somos nada", afirmou.

Elvira, locutora e anunciante

Elvira é conhecida em João Pessoa como a "vaquinha", devido ao seu trabalho nas divulgações de comércios da capital paraibana. Há 20 anos com a personagem da vaquinha, Elvira quem buscou a chance de trabalhar, oferecendo o serviço para as lojas.

“No começo quando eu saia de vaquinha eu ouvia ‘o que diabo é isso’. Hoje já sou conhecida e por onde ando é ‘olha lá a vaquinha’, eu amo o personagem que hoje em dia tá conhecida e todo mundo gosta”.

Há 20 anos também Elvira iniciou a transição de gênero. Ela não se sentia bem com seu sexo biológico e já se sentia mulher desde que nasceu.

“A data é pra lembrar que nós existimos, nós estamos aqui, nós estamos em paz. Não nos olhem com olhos de preconceito. A data é simbólica, porque a luta não é só nessa data, ela é diária, e não é de hoje, é de muito tempo”.

Elon, cantor e compositor

Outro artista paraibano, Elon, é músico e faz parte do grupo Quadrilha. Elon começou na música muito cedo, com influência do pai, o também músico Luizinho Barbosa. O artista começou a fazer shows com 17 anos, quando ainda morava em Pombal, no Sertão da Paraíba.

"Como jovem gay no sertão da Paraíba, quando saí do armário, precisei lidar com as más línguas de uma cidade pequena. Antes eu sentia medo do que as outras pessoas iriam pensar. Hoje sei que superei e sinto orgulho de ser como sou", contou Elon.

Além da música, Elon já participou do elenco do curta "Quando decidi ficar", de Maycon Carvalho, produzido em Sousa em 2017. Elon também é mestre em ciências jurídicas pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), mas não atua na área.

Atualmente Elon se dedica aos seus projetos solos e o grupo Quadrilha. Para ele, a arte á uma ferramenta importante na luta contra o preconceito.

"Acho que a arte é um campo aberto e tenho percebido cada vez mais a promoção da visibilidade para artistas LGBTQIA+, o que é necessário por uma questão de consciência de luta contra a violência e também por reconhecimento da identidade mesmo. Grito necessário pra superar as invisibilidades. Acho que colocar em pauta a homofobia; combater a violência, provocando reflexão tem quebrado muitos preconceitos. A arte é uma ferramenta importante nessa luta porque educa", disse Elon.

Luana Flores, DJ, percussionista, beatmaker e cantora

Luana Flores nasceu em João Pessoa e o primeiro trabalho dela como artista foi como percussionista do grupo feminino Coco das Manas. A partir deste trabalho, ela começou a pesquisar e focar na musicalidade da cultura popular nordestina como ferramenta social para o empoderamento feminino. Como DJ e beatmaker, lançou inicialmente o single “Senhora Maria da Penha”, composição do grupo. A partir daí, participou de festivais nacionais e também internacionais, em eventos na Espanha, Itália e Alemanha.

Segundo a artista, no começo da carreira ela não pensava muito sobre a necessidade e a importância de se falar sobre a luta LGBTQ+ nos trabalhos. “Trabalhar com música era um sonho para mim e no começo eu só queria tocar, mostrar meu trabalho. Só que quando entrei nesse universo, percebi que antes de ser musicista eu também era mulher, e sapatão, e comecei a perceber que sempre me colocavam neste lugar, e que isso incomodava algumas pessoas, até mesmo dentro da cena cultural”, conta Luana.

A beatmaker diz que não acredita que necessariamente um artista LGBTQ+ precisa sempre falar sobre a sua identidade e sobre a luta por direitos em suas músicas, mas percebeu que foi mudando o foco da carreira dela para falar sobre isso para que cada vez mais pessoas se vissem representadas nela.

“A sociedade não espera que pessoas como eu estejam cantando, estejam discotecando, tocando bateria. Eu percebo que a nossa presença, por um lado, incomoda, porque historicamente, não era o nosso lugar. Mas por outro lado, só o fato da nossa existência nestes espaços já nos colocam em um lugar de existir culturalmente. Ser mulher, ser lésbica, é o que eu sou e eu percebi que enquanto eu não me posicionasse sobre isso a partir do meu trabalho, mais a realidade não iria mudar”, diz.

Segundo Luana Flores, a luta contra o preconceito é constante, e datas como o Dia do Orgulho LGBTQ+ são importantes para lembrar a todas as pessoas das conquistas que foram sendo feitas por pessoas que vieram antes.

“Existem problemas na sociedade, existem questões a serem resolvidas e eu faço parte de uma minoria que está aí pautando um espaço já faz algum tempo. Por muito tempo foi difícil dizer abertamente ‘eu sou sapatão’, até mesmo dentro da música, que é tido como um espaço diversificado. Hoje a gente consegue espaço para falar isso, verbalizar esse nome que por tanto tempo foi colocado como algo ruim. Hoje eu sei que se a gente conquistou um espaço, se a gente consegue assumir o que a gente é e ter orgulho disso, é porque outras artistas, outras ativistas, vieram antes de nós e começaram a mudar a realidade”, completa.

Além dos trabalhos já lançados como beatmaker, Luana Flores estreou recentemente como cantora, com o single “Guerreira de Lança”. No próximo mês, a artista planeja lançar o single e o clipe de “Reza Beat”, em parceria com a também lésbica Jéssica Caitano, de Pernambuco. As músicas vão fazer parte do EP “Nordeste Futurista”, que ainda não tem data de lançamento.



Fonte: Fonte: Espaço PB com G1PB – Redação: contato@espacopb.com.br

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