Viveiro de plantas nativas de aldeia indígena da Paraíba completa um ano de atividades no combate ao desmatamento

Publicado em: 11/05/2023 às 19:05 - Atualizado em: 11/05/2023 às 21:56
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O Viveiro Florestal Potiguara José Carlos Félix de Morais, que produz mudas de plantas nativas para reflorestamento nas áreas das 13 aldeias indígenas localizadas no município de Baía da Traição, no litoral norte paraibano, está completando um ano de atividades neste mês de maio. Foram produzidas até o momento cerca de 3,5 mil mudas e mais de 2,5 mil delas já foram distribuídas às famílias que sobrevivem do extrativismo no território indígena.

“A maior parte dessas mudas é de mangabeira, pois a maioria dos agricultores familiares indígenas sobrevivem da comercialização da mangaba. E a distribuição das plantas, neste primeiro momento, foi direcionada aos moradores da Aldeia São Miguel e comunidades circunvizinhas”, informa o vereador Ronaldo do Mel (sem partido), da Câmara Municipal de Baía da Traição (CMBT), e um dos coordenadores do projeto de mudas nativas. “Houve um pequeno atraso no projeto, reflexo ainda da pandemia da covid-19”.

Instalado na Associação Paraibana dos Produtores de Mel da Baía da Traição (Associação Paraíba Mel), na Aldeia São Miguel, o Viveiro Florestal Potiguar leva o nome do técnico agrícola José Carlos Félix de Morais. Ele era indígena potiguara e atuava na Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária (Empaer), do Governo da Paraíba.

“É uma homenagem a José Carlos, que foi presidente da Associação Paraíba Mel quando eu me afastei por conta da campanha eleitoral”, explica o vereador Ronaldo, lembrando que o técnico teve um problema de saúde e morreu recentemente. “Ele ficou no meu lugar como presidente por algum tempo. Era o nosso braço direito. Todos os projetos passavam por ele, inclusive esse do viveiro de plantas nativas. As coisas foram iniciadas com ele, que estava na presidência quando esse projeto saiu”.

O Viveiro Florestal Potiguara tem o apoio do Fundo Casa Socioambiental, que há pouco mais de um ano lançou um edital e a Associação Paraíba Mel se inscreveu para concorrer com o projeto de reflorestamento. “Acabamos sendo contemplados há um ano. Eles mandaram os recursos, poucos, mas com o dinheiro compramos equipamentos, como carros-de-mão, ferramentas, material de irrigação, material para montar a infraestrutura para montar o viveiro”, lembra Ronaldo do Mel.

O Fundo Casa Socioambiental é uma organização que busca promover a conservação e a sustentabilidade ambiental, a democracia, o respeito aos direitos socioambientais e a justiça social por meio do apoio financeiro e fortalecimento de capacidades de iniciativas da sociedade civil na América do Sul. A entidade é pioneira no debate da filantropia socioambiental no Brasil desde 2005. “Nossa missão é gerar impacto positivo nos mais diversos territórios, ao investir nas vidas ao seu redor, criando conexões entre pessoas e organizações. Existimos para transformar”, garante a direção do Fundo Casa Socioambiental.

 

Combate ao desmatamento

O vereador Ronaldo do Mel destaca a importância do viveiro de mudas nativas no combate ao desmatamento no município de Baía da Traição. “Com o viveiro, nós combatemos essa história do desmatamento, que é grande aqui, principalmente com o aumento de áreas ocupadas e plantadas com cana-de-açúcar. E agora a gente vem com mudas de frutas e outras árvores nativas. Tudo isso pra gente tornar a coisa sustentável, favorecendo a agricultura familiar indígena”.

As matas da região da Aldeia São Miguel, por exemplo e segundo Ronaldo do Mel, estão voltando, favorecendo a atividade extrativista da mangaba. “Estamos concentrando na mangaba, já que muitas famílias dependem da cultura dessa fruta. Inclusive, na semana passada, conseguimos uma política de preço mínimo: demos entrada na subvenção extrativista da mangaba”.

Ronaldo explica que os indígenas que coletam e comercializam a mangaba recebem uma subvenção, para cobrir a diferença de preço de venda do produto. “Tem o preço nacional e tem o preço que eles vendem ao atravessador; e o governo federal completa esse preço no valor de até R$ 2 mil por ano pra ajudar eles a se fixarem no campo e não derrubarem o pé de mangaba para dar espaço à cana-de-açúcar. Isso valoriza a manutenção deles nas aldeias, no campo”.

Conforme o vereador, devido a expansão do plantio da cana-de-açúcar para abastecer a usina na região, tem-se perdido muita mangabeira, que sustenta os pequenos agricultores indígenas. Ele ressalta que 80% das famílias dependem dessa fruta pra sobreviver. “A questão da mangaba é muito forte. Na minha família mesmo, fizemos muita feira com o dinheiro da mangaba e hoje isso continua. São pessoas que não têm outro emprego e sobrevivem da mangaba. Ela está ameaçada e temos brigado muito por isso. A cana está ocupando todos os espaços. Na hora que tirar a mangaba, esse povo vai viver de que?”.

Alguns caciques da região, relata o parlamentar, “simpatizam com a cana-de-açúcar” e deixam a usina entrar em suas áreas. Eles autorizam e ocorrem os desmatamentos. “Com o viveiro de plantas nativas estamos tentando minimizar e dar o mínimo de segurança de sobrevivência para essa população, para que não se acabe a mangaba. Esse povo tem essa renda garantida”, relata ele, lembrando que dentro da mata é onde há os apiários, “onde a gente consegue produzir o mel e que também tá ameaçada. A gente está perdendo as abelhas com o veneno no desmatamento, que também etá atingindo as aves nativas”.

“Para fazer frente a tudo isso, a gente resolveu botar a mão na massa para proteger a nossa cultura e sobrevivência. Estamos fazendo a nossa parte, o que não é fácil brigar contra uma usina. A gente já cansou de cobrar das autoridades superiores, que não estão nem aí para as pessoas mais pobres das aldeias”, lamenta Ronaldo do Mel, que se emociona ao se lembrar do técnico José Carlos, que dá nome ao Viveiro Florestal Potiguara: “Era uma briga dele, que já nos deixou; mas a gente continua a luta”.

A Associação Paraíba Mel foi criada em 2006 e Ronaldo, antes de chegar à Câmara de Baía da Traição, coordenava as atividades da entidade desde 2011. Além do impacto da pandemia do novo coronavírus, que provoca a covid-19, as ações da Associação também foram bastante prejudicadas pelo “abandono das políticas públicas” por parte do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Mas agora, com o governo Lula, estamos voltando com força total”, comemora o parlamentar.

No viveiro de plantas nativas da Associação Paraíba Mel, são produzidas mudas de jenipapo, mangabeira, jurema, mangueira, jatobá, cajueiro e acerola, além de plantas ornamentais, como as palmeiras. “Esse trabalho visa principalmente repor a vegetação nativa que vem sofrendo com o desmatamento, mas agora ganha ainda mais força”.



Fonte: Espaço PB com Assessoria – Foto: Divulgação – Contato: jorgerezende.imprensa@gmail.com

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