No Cariri paraibano, município se destaca pela produção cinematográfica e de cenário para produções nacionais

Publicado em: 03/04/2021 às 21:55
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Na Região do Cariri paraibano tem um município que respira cinema e não é a já conhecida cidade de Cabaceiras. Trata-se de Soledade, cidade situada a 186 quilômetros da capital João Pessoa e que conta com mais de 15 produções cinematográficas, sendo a maior parte de curtas-metragens. Tudo produzido com o talento de cineastas e atores locais.

Soledade também serviu de locação para produções nacionais, como a série ‘Onde Nascem os Fortes’, devido a suas belezas e paisagens bem características. A paixão pela sétima arte é tanta que, em setembro, a cidade realizará a segunda edição do ‘Festival de Cinema’ e, neste ano, o município se destacará ainda mais pela sua capacidade criativa.

Tudo começou no ano de 2000, quando o município foi, pela primeira vez, cenário de um filme: ‘A Pescaria Sangrenta’, produzido pelo cineasta Ivanildo Gomes. Pescador, de tanto ouvir histórias, Ivanildo resolveu transformá-las em produções cinematográficas, convocando conhecidos e talentos que ele percebia ao seu redor. Hoje, já soma dez filmes – entre os que dirigiu e atuou, além de contar com o apoio dos filhos e esposa, que também já participam das tramas. “O cinema para mim é uma diversão”, conta.

Duas décadas depois de Ivanildo dar início ao que já virou tradição em Soledade, o município volta a investir em produções cinematográficas e em eventos que consolidam ainda mais o cinema como característica da cidade e impulsionador turístico local. Agora, com o apoio da prefeitura local, o pescador e cineasta quer continuar a produzir, dirigir, contar histórias, entreter e motivar a população.

Entre os filmes que participou estão ‘Pescaria Sangrenta’, ‘Nove Marmanjos’, ‘O Vaqueiro’, ‘Cuidado com a Realidade’, ‘A Última Caçada’ e ‘Um Fazedor de Filmes’. Nesse último, foi premiado no ‘Festival Cine Esquema Novo’, no Rio Grande do Sul, como o melhor personagem real – já que o documentário, de Arthur Lins e Ely Marques (que morreu neste sábado, 3 de abril, vítima da covid-19), acompanha o cineasta produzindo ficções com os moradores do município.

O festival

O ‘1º Festival de Cinema de Soledade’, realizado em janeiro de 2020, reuniu mais de duas mil pessoas e ofereceu, de forma gratuita, cursos de direção, direção de fotografia, atuação e roteiro. Neste ano, o evento será ainda mais significante. O ‘Festival de Cinema de Soledade’, através da pessoa de Gabriel Lima, venceu o edital do governo do estado de R$ 40 mil para realizar a segunda edição do evento. O valor será investido no encontro, que terá exibição de filmes produzidos no município, além de cursos e projetos focados no desenvolvimento cultural.

Diretor Cultural de Soledade, o cineasta Gabriel Lima é idealizador do ‘Festival de Cinema’. Ele já trabalhou nas principais emissoras do país, participando de novelas e séries como figuração e produção. De volta à terra natal, ele agora busca aguçar o interesse por cinema na população. “Comecei a ver uma nova oportunidade para os talentos da nossa terra. Procurei e reuni alguns amigos que já faziam cinema amador e passei a despertar novas pessoas que nunca tinham trabalhado com cinema, convidei alguns para que fizéssemos filmes de forma voluntária”, conta.

Gabriel reconhece a importância do cinema para a valorização dos artistas da terra e acredita que o investimento traz um novo olhar para Soledade. “A cidade é um grande berço cultural e tem artistas em vários setores da cultura. Com essa atenção, atraímos também o interesse de investidores para o nosso comércio e indústria”, analisa.

Cultura e aprendizado

Em Soledade, a arte além de vivida, é ensinada. O professor Tiago Marinho tem mostrado esse caminho para os alunos: fotografias, poesia e cinema fazem parte de sua aula, incluindo as produções de Ivanildo. Foi em 2018 que ele resolveu fazer o primeiro curta-metragem, ‘Emboscada’, e depois disso, em 2019, conseguiu o apoio da escola e gravou três curtas-metragens com os estudantes. No ano passado criou a disciplina na escola chamada ‘Cinema em Ação’, onde desenvolveu dois roteiros de curtas com os jovens, mas, por conta da pandemia do novo coronavírus, precisou parar as gravações.

Tiago, que recebeu o apoio da Prefeitura de Soledade para a produção de um de seus livros, sabe a importância do poder público para a valorização da cultura. “Contribui com as nossas despesas e principalmente faz com que nosso trabalho chegue a escolas, ambiente fundamental pra circulação de nossas produções. Nossas produções artísticas são fruto de desejos e sonhos, porém parte de nossa comunidade ainda é muito carente em termos de valorização da cultura local e isso acaba sendo um empecilho, e torna o apoio público fundamental para a sobrevivência da produção artística e cultural local”, ressaltou.

O professor de História aprendeu a fazer da arte algo essencial para a sua existência. “Preciso da arte para dar sentido a minha vida, florir minha existência. Impossível pensar em não ler uma poesia, em deixar de pendurar quadros nas paredes, em não ouvir belas canções e discutir filmes, em não comtemplar as maravilhas da natureza”, avaliou.

Apesar de ouvir muitas vezes que era melhor desistir, a atriz Juciene insiste na arte e continua a fazer teatro e cinema, não só em Soledade, mas também nas cidades vizinhas. Ela comemora o investimento nas artes do município e relembra tempos antigos. “Minha mãe fala que no passado ela ia ao cinema de Soledade, que ficava localizado no mercado antigo. Nossa cidade tem muitos talentos que devem ser valorizados: atores, escritores, cinegrafistas e muitas peças teatrais que precisam ser vistas e aplaudidas pelo público”, aponta.

Aconselhada a fazer outra coisa, Juciene é enfática: “Não podemos desistir dos nossos sonhos. Já me falaram que em nossa Paraíba, em nossa cidade, não vai valer a pena o teatro, nem o cinema, mas eu nunca desisti, porque amo o que faço e sei que um dia será reconhecido aqui”, afirma.

Fortalecimento do turismo

O prefeito de Soledade, Geraldo Moura (Progressistas), investe nas produções cinematográficas e vê na valorização da cultura local uma oportunidade de projetar a cidade e atrair turistas. “O talento presente em nosso povo é algo que deve ser valorizado e reconhecido, não só por nós, mas por pessoas de toda a Paraíba e até do país. Nossa tradição pode ser também um potencial turístico e impulsionar nossa economia”, avaliou.

As produções já gravadas no município: ‘Pescaria sangrenta’, ‘Nove marmanjos e o rabo de uma cabrita’, ‘O Vaqueiro’, ‘O Cabra e a cabra’, ‘Água mole, pedra dura’, ‘O velhinho do roçado’, ‘Assassino da Estrada’, ‘Boi da cara preta’, ‘Um fazedor de filme’, ‘O jogador’, ‘Um leiteiro’, ‘Emboscada’, ‘A flor no tempo’, ‘Uma última caçada’ e ‘Meu chão’.



Fonte: Espaço PB com Assessoria – Foto: Divulgação – contato@espacopb.com.br

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