Festival reúne cultura das comunidades quilombolas da Paraíba

Publicado em: 24/11/2022 às 23:50
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Às 8h deste domingo (27) começa o II Festival da Cultura Quilombola, em Santa Luzia, no Sertão da Paraíba. O forrozeiro Valcir do Acordeon abrirá a lista de 27 atrações no palco do Quilombo do Talhado, por onde passarão espetáculos de dança, pontões, embolada, grupos de forró e reisado. O evento integra calendário da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), executando as políticas do governo da Paraíba voltadas à divulgação, reconhecimento e fortalecimento das comunidades tradicionais, povos originários e outras etnias. Toda a estrutura, com palco, pavilhão e tendas, já está montada na Comunidade Quilombo do Talhado.

O festival, o segundo destinado à comunidade quilombola, integra o calendário de eventos da Secult-PB. A primeira edição foi realizada pelo governo da Paraíba em 2019, no Quilombo Caiana dos Crioulos, em Alagoa Grande, e, em 2020 e 2021, não houve continuidade por causa do quadro sanitário vivido no país, que exigiu isolamento social e proibiu aglomerações.

Em 2022, a Secult retomou seu calendário de eventos, realizando o II Festival de Cultura Cigana, em Sousa, e o I Festival da Cultura Indígena, em Rio Tinto. Os festivais têm o objetivo de reafirmar a cultura desses povos e comunidades, dando visibilidade à sua arte, culinária, costumes, religiões e cultura em geral. Esses eventos abrem espaço à diversidade e preservam culturas.

A segunda edição do Festival Quilombola terá a participação de integrantes de 33 dos 48 quilombos existentes e já reconhecidos na Paraíba. Segundo a Fundação Palmares, há cerca de 3.500 comunidades quilombolas no Brasil. Haverá uma programação envolvendo grupos de forró (a principal força artística do Talhado), dança, reisado, pontões e emboladores. Vinte e sete atrações estão sendo esperadas no palco do festival, que será coberto por um grande pavilhão, onde o público poderá ver os shows e dançar “no poeirão”, como diria o “rei” Luiz Gonzaga, no centro do Quilombo.

Tendas vão expor e vender as louças (panelas, jarras, vasos, tigelas) feitas em barro pelas artistas quilombolas. As louças do Talhado são o principal símbolo dessa comunidade negra. Há em Santa Luzia a Associação das Louceiras Negras da Serra do Talhado, com sede própria, onde são fabricadas as peças.

Na noite do sábado (26), véspera do festival, haverá um evento de chamamento no Parque do Forró, praça central de Santa Luzia, que servirá para dar conhecimento e atrair o público para a festa do dia seguinte no Quilombo do Talhado, quando a programação se estenderá por todo o dia. Na Praça Alcindo Leite, a programação começa às 20h e inclui apresentações de dança, grupo de forró e exibição de filmes: filmes ‘Aruanda’ e ‘Céu’; Grupo de Dança Marias Bonitas e Companhia; e Neguinho Show (música).

Cidades e quilombos participantes do festival: Santa Luzia (Quilombo da Serra do Talhado), Boa Vista (Quilombo Santa Rosa), Serra Branca (Quilombo Sítio Cantinho e Quilombo Lagoa de Baixo), Camalaú (Quilombo Roça Velha), São João do Tigre (Quilombo Cacimba Nova), Livramento (Quilombo Sussuarana, Quilombo Areia de Verão e Quilombo Vila Teimosa), Cacimbas (Quilombo Serra Feia e Quilombo Aracati), Várzea (Quilombo Pitombeira), São Bento (Quilombo Contendas e Quilombo Terra Nova), Catolé do Rocha (Quilombo São Pedro dos Migueis, Quilombo Lagoa de Raza e Quilombo Curralinho, Jatobá, Pau de Leite).

E mais: Pombal (Quilombo os Rufinos, Quilombo os Danieis e Quilombo os Barbosas), Cajazeirinhas (Quilombo Umburaninha e Quilombo Vinhas), Coremas (Quilombo Barreiras, Quilombo Mãe D’Água e Quilombo Santa Tereza), Triunfo (Quilombo do 40), Manaíra (Quilombo Fonseca), Princesa Isabel (Quilombo Livramento), Diamante (Quilombo Barra de Oitis), Picuí (Quilombo Serra do Abreu), Tavares (Quilombo Domingo Ferreira e Quilombo Vaca Morta), Cacchoeira dos Índios (Quilombo Cipó).

O II Festival dos Quilombolas é realizado pelo governo paraibano, por meio da Secult, com parceria da Prefeitura de Santa Luzia (PMSL) e apoio da Secretaria de Estado da Mulher e Diversidade Humana.

O Quilombo do Talhado, esconderijo de escravos fugitivos, começou com o negro José Bento Carneiro (Zé Bento), que fugiu de uma fazenda no estado do Piauí. Ele e a esposa, Maria Cecília da Purificação (Mãe Cizia), foram os primeiros moradores do quilombo, hoje chamado Quilombo da Serra do Talhado. A comunidade quilombola surgiu no século XIX, por volta do ano de 1890.

“A maioria da comunidade é formada por parentes. Eles costumam casar entre si e mantêm uma forte vida comunitária. Muitas casas foram construídas ao redor do galpão das ‘loiceiras’ (denominação para as mulheres artesãs que produzem louças de barro), onde são produzidas as peças que garantem a sobrevivência de boa parte das famílias”, explica a antropóloga Maria Ester Fortes, em depoimento ao site Paraíba Criativa.

As louceiras são as precursoras das atividades que passaram a gerar renda para sustento das famílias nos quilombos. Ao longo dos anos, o Talhado também revelou talentos artísticos em outras áreas, notadamente na música, sendo de lá muitos forrozeiros de destaque na Paraíba e no país. O quilombo se localiza na área rural de Santa Luzia, numa distância de 18 quilômetros a partir da BR-230, entrando na estrada vicinal que leva à Serra de Santa Luzia.



Fonte: Espaço PB com Assessoria (José Carlos dos Anjos) – Foto: Divulgação – Contato: jorgerezende.imprensa@gmail.com

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