Desmatamento, avanço da cana-de-açúcar e agrotóxicos estão dizimando abelhas de aldeias potiguara na Paraíba

Publicado em: 19/05/2023 às 09:50
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Neste sábado (20) e na segunda-feira (22) são comemorados, respectivamente, o Dia Mundial da Abelha e o Dia do Apicultor. Todavia, os apicultores indígenas de nove das 13 aldeias potiguara do município de Baía da Traição, no litoral norte do estado da Paraíba, não estão tendo muito o que comemorar. O desmatamento, o avanço das lavouras de cana-de-açúcar e o uso indiscriminado de agrotóxicos, incentivados por uma usina da região, têm causado a mortandade de milhares de abelhas e dizimado dezenas de colmeias dos apiários, colocando em risco a produção de mel e a sobrevivência econômica de pequenos apicultores indígenas.

“A cana está ocupando todos os espaços. Perdemos abelhas e apicultores para a cana-de-açúcar”, denuncia o vereador Ronaldo do Mel (sem partido) – na foto –, da Câmara Municipal de Baía da Traição (CMBT), que também é um dos coordenadores da Associação Paraibana dos Produtores de Mel da Baía da Traição (Associação Paraíba Mel), instalada na Aldeia São Miguel, que também mantém um viveiro de mudas nativas – principalmente frutíferas, como a mangabeira – para fazer frente ao desmatamento na região.

Ele destaca que alguns caciques “simpatizam com a cana-de-açúcar” e deixam a usina entrar em suas áreas. Eles autorizam e ocorrem os desmatamentos. “Com o viveiro de plantas nativas estamos tentando minimizar e dar o mínimo de segurança de sobrevivência para essa população, para que não se acabe a mangaba, e dentro da mata é onde estão os apiários, “onde a gente consegue produzir o mel e que tá ameaçado. A gente está perdendo as abelhas com o veneno no desmatamento, que também tá atingindo as aves nativas”.

O Dia Mundial das Abelhas foi estabelecido pela ONU durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em dezembro de 2017, e é comemorado todo dia 20 de maio desde 2018. O dia escolhido é uma homenagem ao esloveno Anton Jansa, nascido em 1734 e considerado o pioneiro da apicultura moderna.

Já o Dia do Apicultor é comemorado no dia 22 de maio, lembrando que o apicultor cria abelhas por hobby ou para comercializar os produtos que são extraídos da colmeia, como o mel, a cera, a própolis e a geleia real. Ou seja, essa data especial foi instituída para homenagear o profissional que maneja abelhas para fins comerciais, ou não.

O profissional da apicultura, ressalta o vereador Ronaldo do Mel, promove inúmeros benefícios ao meio ambiente, em especial pela polinização de várias espécies vegetais. “Essa atividade também impulsiona o desenvolvimento de várias regiões, graças à geração de empregos e a circulação de dinheiro, que aquecem as economias locais”.

Produção de mel

Organizadas na Associação Paraíba Mel, na Aldeia São Miguel, cerca de 80 famílias mantêm 385 colmeias (de abelhas africanizadas e europeias – italiana) distribuídas em nove das 13 aldeias indígenas existentes em Baía Traição. Com uma média de produção de 13 quilos por colmeia, a comunidade indígena na região garantia, até recentemente, a produção de algo em torno de 14 a 15 mil litros de mel ao ano.

“Era uma produção expressiva antes do avanço da cana-de-açúcar. Muitos apicultores ganharam dinheiro. Hoje ainda temos produção satisfatória, mas os números diminuíram. No avanço da cana, eles botam fogo que também queima a mata nativa e atinge também os apiários. Teve noite que a gente foi ‘para dentro do gogo’ salvando as abelhas, salvando os enxames. O fogo acaba com tudo. Queima tudo”, lamenta Ronaldo do Mel.

O vereador também ressalta a ameaça pelo uso indiscriminado de agrotóxicos. “O veneno é uma praga. É nocivo às abelhas. A gente sofre com isso. Chegamos nos apiários e pegamos muitas abelhas mortas devido aos agrotóxicos. Aquilo chega dói no coração”, conta Ronaldo, destacando: “Quem conhece a história da abelha e o benefício que ela faz é a gente, o apicultor”.

Ele ainda ressalta: “Economicamente, a gente sabe que, quando a gente vê a abelha morta ali, é prejuízo, porque é ela quem produz e nos dá a garantia de geração de renda. E o benefício que ela causa à natureza é grande, porque é um inseto responsável por 80% da polinização das árvores frutíferas, dos alimentos. É um prejuízo muito grande. Incalculável”.

Conforme Ronaldo do Mel, muitos apicultores hoje aderiram à cultura da cana depois de um sentimento de que não teriam como enfrentar o assédio da usina de açúcar. “O sentimento de alguns é de que tinha jeito de fazer frente à usina de açúcar, porque a cana é mais forte. Alguns largaram a apicultura e hoje são plantadores de cana. São apicultores que não tinham o espírito de apicultor para fazer frente a esse avanço da cultura da cana. Ou seja, perdemos abelhas e apicultores para a cana de açúcar”.

O Viveiro Florestal Potiguara José Carlos Félix de Morais, na Associação Paraíba Mel, produz mudas de plantas nativas para reflorestamento nas áreas das 13 aldeias indígenas localizadas no município de Baía da Traição. Desde que foi criado, foram produzidas até o momento cerca de 3,5 mil mudas e mais de 2,5 mil delas já foram distribuídas às famílias que sobrevivem do extrativismo no território indígena.

“A maior parte dessas mudas é de mangabeira, pois a maioria dos agricultores familiares indígenas sobrevivem da comercialização da mangaba, além da apicultura. E a distribuição das plantas, num primeiro momento, foi direcionada aos moradores da Aldeia São Miguel e comunidades circunvizinhas”, finaliza o vereador Ronaldo do Mel.

A Associação Paraíba Mel foi criada em 2006 e Ronaldo, mesmo antes de chegar à Câmara de Baía da Traição, começou a coordenar as atividades da entidade em 2011. No viveiro de plantas nativas da Associação, são produzidas mudas de jenipapo, mangabeira, jurema, mangueira, jatobá, cajueiro e acerola, além de plantas ornamentais, como as palmeiras.



Fonte: Espaço PB com Assessoria – Foto: Eduardo Santos – Contato: jorgerezende.imprensa@gmail.com

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