Candidatos a vereador esbanjam criatividade ao escolher nomes para aparecer na urna eletrônica

Publicado em: 31/10/2020 às 23:05
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Enquanto o município de Santa Rita, na Região Metropolitana de João Pessoa, tem um candidato “estourado”, em Patos, na Região do Sertão, tem um outro candidato “cabeça-fria”. Já Campina Grande tem um “rei” no pleito eleitoral. Todavia, a cidade de Bayeux, também na região polarizada pela capital paraibana, não fica atrás e tem na disputa eleitoral “a filha do rei”. Isso sem falar de um “rei divino” de olho na Câmara Municipal de Cabedelo.

Parecem nomes de personagens fictícios de uma crônica urbana ou de uma história infantil – ou quem sabe de um romance de época –, mas essas pessoas são reais e estão registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como candidatas a um mandato de vereador nas eleições municipais deste ano, previstas para 15 de novembro.

João Estourado (Solidariedade) é candidato a vereador em Santa Rita. Paulino Cabeça Fria (Pros) disputa a eleição em Patos. Rei Roberto Alexandre (PCdoB) está registrado no pleito de Campina Grande; A Filha do Rei (Progressistas), em Bayeux; e Divino Meu Rei (Republicanos), em Cabedelo, cidade portuária na Grande João Pessoa.

Dentre os 223 municípios paraibanos, a reportagem de A União fez um levantamento nos nomes dos candidatos a vereador nas dez maiores cidades da Paraíba (João Pessoa, Campina Grande, Santa Rita, Patos, Bayeux, Sousa, Cabedelo, Cajazeiras, Guarabira e Sapé) e destacou aqueles que mais chamam a atenção, por serem diferentes, exóticos, esquisitos, curiosos ou até mesmo engraçados. Muitos candidatos a vereador abrem mão do próprio nome de batismo (ou registro civil) e escolhem outros nomes para colocar nas urnas das eleições.

Só de “candidatos palhaços” nesses dez maiores municípios paraibanos são quatro na disputa eleitoral deste ano. Na verdade, são duas palhaças e dois palhaços. As palhaças são Palhaça Lua (PDT), em Bayeux, e Palhacinha Fofolete (Rede), em João Pessoa. Os dois palhaços estão registrados no pleito de João Pessoa: Palhaço Baba Baby (PSL) e Palhaço Picolé (PL).

Aliás, João Pessoa registrou, de acordo com o TSE, 664 candidatos a vereador (nem todos tiveram a candidatura deferida e alguns até renunciaram ao pleito... ou morreram). Na capital paraibana ainda se destacam como “nomes diferentes” os seguintes candidatos: Alemão do Peixe (PL), Caça Pava (Psol), Gordinho dos Imóveis (Patriota), John Cem Por Cento (Pros), Lauricea A Dona do Pedaço (PV), Leandra Diário D Uma Vencedora (PSL), Lili Pipoco (PSB), Ouro (Pros), Pebinha (PCdoB), Peixe Reboque (Pros), Rubens Júnior O Bonitão da TV (Pros), Seu Ciço Bolado (Psol) – na foto –, Titela (Pros), Toinho Pé de Aço (MDB), Vaquinha Elvira (Psol), Wandré Com W Forte (Pros) e Xerife do Belo (Rede),

Em Campina Grande, com 481 candidatos registrados, se destacam: Amendoim (Pros), Batatinha (Podemos), Bibi Perigosa (MDB), Bigode do Café (DC), Buchada (PSD), Cabelinho Poro (PT), Fanta Cantor (Solidariedade), Moral (Pros), Temtem (Podemos), Tony Kebradeira (DC) e Wilson Cabeludo (Republicanos).

Com 353 candidatos a vereador, Santa Rita traz para o pleito os postulantes Abacaxi de Holanda (PL), Cristiano Melo Ex Padre (PT), Irmão Pippo (Avante), Irmão Suco (Solidariedade), Kleklé (Progressistas), Neném Oião (Patriota), Nininho do Bode (PSDB), Pilatos (PL), Porém de Forte Velho (Avante) e Tubarão (Podemos).

A cidade de Patos (291 candidatos) destaca nomes como Bolhinha do Café (Pros), Cambirota (Republicanos), Davalor (Republicanos), Fiapo (UP), Mãe Vozinha (Pros), Pacatá (Avante), Peteca (PSC), Pipi Simões (Rede) e Zé Pindola (Patriota). Já os candidatos Careca Tá de Olho (PCdoB), Carne de Pato (Avante), Chico Peixe (PTB), Dangla O Velho (Cidadania), Hominho da Academia (PTC), Sassá Mutema (PTC), Sinhô da Piscina (PSDB) e Vando Sempre Amigo (Progressistas) disputam uma vaga de vereador em Bayeux, que tem um total de 313 candidatos.

Em Sousa (com 156 candidatos) chamam a atenção nomes como Batatinha (PTB) – lembrando que também tem um Batatinha em Campina Grande –, Júnior Fenômeno (Progressistas), Pipoca (Progressistas), Teté Cabeludo (PDT) e Toró Pra Torar (PSC). Cabedelo tem 171 candidatos e merecem destaque “os futuros vereadores” Dioguinho Tremedeira (PT), (Republicanos), Erivaldo Piu Piu (PDT), Nena Chik (PSL) e Valdi Tartaruga (Republicanos).

Cida Pé No Chão (PSDB), Fátima de Teve Jeito (Cidadania), Grião do Bé (Progressistas) e Reginaldo Caba Bom (PSL) são candidatos em Cajazeiras (de um total de 115). Já na disputa em Guarabira (com 121 candidaturas) estão Raminho Talisbã (Cidadania) e Severino da Encruzilhada (MDB). Sapé tem 115 candidatos e entre eles estão Bitonhe de Antas (PSL), Bolô (PT), Cheirinho de Pacatuba (PL), Marcone Mãozinha (PL), Só Alegria (Podemos), Tapioca (DEM) e Zé do Caixão (PSDB).

Nomes mais comuns

José e Maria. Não é apenas na Bíblia que os nomes dos pais de Jesus têm grande destaque. Assim como em 2016, são os dois nomes mais comuns entre os candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador nas Eleições 2020, de acordo com levantamento do portal Brasil 61.com.

Ao todo, são 27.449 Josés e 20.942 Marias. Há quatro anos, os números eram bem parecidos. Eram 1.131 Josés e apenas 13 Marias a mais. O que mudou mesmo na lista dos nomes mais comuns é a ascensão dos Joões. Em 2016, o nome era apenas o sexto. Neste ano, pulou para terceiro, com 9.963 registros. Deixou para trás outros muito comuns: Antônio, Francisco e Paulo.

Entre os dez nomes mais comuns de candidatos às eleições deste ano, Ana é o único nome feminino além de Maria. São 5.153. Ao todo, são quase 50 mil nomes diferentes. Além dos comuns, que se repetem aos milhares, têm aqueles que são únicos: 33.490, para ser mais preciso. Com tanto nome singular, sobra criatividade.

De A a Z, no alfabeto, aqui estão alguns: Ardalidanio, Architeclinio, Abelhana, Arcanja. Com a letra B, Brizaluara, Brindinalva, Brasileiro, Bihanka e Bepkororoti se destacam. Tem também a Calcilda, o Tetsutaro, Zoltan e, por fim, a Última, entre tantos outros.

Em busca por eleitores

Não são apenas os nomes de batismo de vários candidatos que chamam a atenção. Na busca por votos, muitos deles optam pela criatividade para atrair os eleitores. Alguns usam métodos questionáveis, afinal, você votaria em um candidato que se identifica como o Pinóquio? Ao menos cinco candidatos concorrem com esse codinome. Se a preferência do eleitor for o mundo encantado da Disney, tem a Cinderela como opção.

João Miras, estrategista de marketing político, acredita que o uso desses apelidos tão diferentes pelos candidatos reflete o povo brasileiro, de fácil integração e cordialidade, o que acaba se refletindo, naturalmente, nas eleições mais próximas dos cidadãos.

“O apelido tem muito a ver com a maneira de ser do brasileiro, que é divertido, engraçado, gosta de piada. Isso não é comum em outros países. Não nos esqueçamos que o cidadão comum brasileiro é o verdadeiro representante da vereança. Estamos falando do representante que está mais próximo do povo”, avalia.

Para aqueles que gostam do folclore brasileiro, há várias alternativas, como o Saci Pererê e a Cuca Vem Aí. Outros candidatos resolveram apostar no sucesso recente da franquia dos Vingadores. Hulk e Homem Aranha concorrem no pleito deste ano. Tem também a clássica rivalidade dos quadrinhos: Batman x Coringa. Na corrida eleitoral da criatividade, tem espaço para todos: Ayrton Senna e Schumacher estão no páreo.

O candidato João Sá de Teles Santana (PSL) resolveu apostar na popularidade dos atuais presidentes do Brasil e dos Estados Unidos. Ele vai concorrer ao cargo de vereador no município de Brusque, em Santa Catarina, com a alcunha Donald Trump Bolsonaro.

Miras, especialista na área, afirma que os codinomes curiosos têm, obviamente, a intenção de angariar apoio. Ele cita o exemplo do humorista Tiririca, que conseguiu usar um nome divertido e um slogan marcante: “Pior do que tá não fica”, para se promover.

“Se a pessoa tem um nome mais engraçado, mais incomum e, ao mesmo tempo, mais fácil de guardar, isso é comunicação, porque você chama a atenção e facilita a memorização. Isso é marketing puro, é marketing raiz e representa muito bem o que é o povo brasileiro”.

Até 15 de novembro, dia do primeiro turno das eleições municipais, os candidatos vão poder usar a criatividade não apenas nos apelidos, mas na hora de expor as ideias aos eleitores, já que muitos têm pouquíssimo tempo de propaganda na tevê, por exemplo. O segundo turno das eleições está marcado para 29 de novembro. Previsto para outubro, o pleito foi adiado pelo Congresso Nacional por causa da pandemia da covid-19.



Fonte: Espaço PB com jornal A União (Jorge Rezende) – Foto: Geovani Rezende – contato@espacopb.com.br

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