Cães e gatos que estavam na granja do padre Egídio são doados para ONG de proteção animal

Publicado em: 28/12/2023 às 10:55
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Cerca de 10 gatos e 20 cachorros foram doados após a defesa do padre argumentar que seria impossível realizar a manutenção dos animais na granja. Segundo informações da CBN, 13 cachorros eram da raça Spitz Alemão, que em sites de vendas online custam até R$ 6 mil.

A Justiça da Paraíba encaminhou para doação cerca de 30 animais que estavam em uma granja, no município do Conde, que pertencia ao padre Egídio de Carvalho, ex-diretor do hospital Padre Zé e suspeito de desviar recursos que podem chegar a R$ 140 milhões. Os animais foram retirados do local no dia 7 de dezembro e enviados para uma ONG de proteção animal após uma ação conjunta do Gaeco/MPPB e a defesa do padre.

A informação foi confirmada ao g1 pelo advogado do padre, Rawlinson Ferraz, que explicou que solicitou a doação de cerca de 20 cachorros e 10 gatos ao Ministério Público da Paraíba após o padre não ter mais condições de arcar com as despesas dos animais. Além disso, Egídio de Carvalho não teria parentes na região de João Pessoa para assumir a tutoria. 

De acordo com o advogado, após a prisão do padre no dia 17 de novembro, os animais continuaram sendo acompanhados por um veterinário, que também fornecia a ração para os 30 bichos, mas que não poderá continuar com os cuidados.

O advogado também afirmou que solicitou à Justiça que os animais não fossem considerados apenas “bens” do padre e defendeu que a questão tratada era a vida de seres vivos. Segundo apuração da CBN João Pessoa, cerca de 13 cachorros eram da raça Spitz Alemão, que em sites de vendas online custam até R$ 6 mil.

A CBN João Pessoa também apurou que pelo menos dois animais morreram na granja, o que teria motivado a ação do Gaeco. O advogado confirmou ao g1 a morte dos animais, mas afirmou que eram filhotes e que morreram por causas naturais.

A defesa do padre também explicou que os cães e gatos foram encaminhados para um ONG de proteção aos animais, escolhida pelo MPPB, que ficou responsável por doar os animais para tutores com condições financeiras para fornecer os cuidados necessários para os bichos. O nome da ONG não foi divulgado.

A granja do Padre Egídio

 

Granja de padre Egídio, ex-diretor do Hospital Padre Zé, em João Pessoa — Foto: Reprodução: TV Cabo Branco/Ana Beatriz Rocha

Granja de padre Egídio, ex-diretor do Hospital Padre Zé, em João Pessoa — Foto: Reprodução: TV Cabo Branco/Ana Beatriz Rocha

A granja foi um dos 11 alvos da operação 'Indignus', deflagrada no dia 5 de outubro para investigar desvios de recursos públicos do Hospital Padre Zé. De acordo com informações da TV Cabo Branco, diversos artigos de luxo foram encontrados na granja, incluindo móveis, eletrodomésticos, itens de colecionador e o canil de cães de luxo.

Um caseiro foi encontrado no local e confirmou que o imóvel pertencia ao padre, mas ele não frequentava o local há um certo tempo. 

Veja os bens do padre preso por desvios milionários na Paraíba

A Polícia Civil da Paraíba também investiga uma denúncia de que uma granja do padre Egídio de Carvalho Neto foi arrombada no dia 11 de novembro. Os policiais foram acionados nas primeiras horas da manhã e rapidamente uma equipe foi até o local.

O caso está sendo investigado pelo delegado Hugo Hélder, da Delegacia Seccional de Alhandra. E chama a atenção principalmente porque acontece em meio a investigações que pesam contra o religioso, alvo da Operação Indignus.

Entenda a Operação Indignus

Uma operação conjunta deflagrada para investigar um suposto esquema de desvio de verbas do Hospital Padre Zé, em João Pessoa, cumpriu 11 mandados de busca. O principal alvo da investigação é o padre Egídio de Carvalho, ex-diretor do hospital.

Padre Egídio de Carvalho Neto, ex-diretor do Hospital Padre Zé — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução

Padre Egídio de Carvalho Neto, ex-diretor do Hospital Padre Zé — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução

A investigação aponta uma 'confusão' entre os patrimônios da entidade e do padre. E apura, entre outras coisas, a aquisição de imóveis de alto padrão por parte do religioso, com recursos do hospital.

O Padre Zé é um hospital filantrópico e recebe recursos por meio de convênios com gestões públicas, emendas parlamentares e também doações privadas.

A operação ‘Indignus’ contou com a participação do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado do Ministério Público do Estado da Paraíba (Gaeco/MPPB), da Polícia Civil, da Secretaria de Estado da Segurança e da Defesa Social (SEDS), da Secretaria de Estado da Fazenda da Paraíba (Sefaz) e da Controladoria-Geral do Estado da Paraíba (CGE).

"Fora as circunstâncias que envolvem corrupção, a gente tem outras circunstâncias que envolvem coisas muito mais graves. É necessário que a gente tenha essa ideia e que a gente consiga ter elementos para filtrar aquelas pessoas que de fato se preocupam com os miseráveis e excluídos, e aquelas outras que usam essas pessoas como instrumento de manobra para suas ganâncias e questões de escala monetária", afirmou o promotor Octávio Paulo Neto, coordenador do Gaeco.

O que a operação investiga?

Hospital Padre Zé, em João Pessoa — Foto: Hospital Padre Zé/Divulgação

Hospital Padre Zé, em João Pessoa — Foto: Hospital Padre Zé/Divulgação

As investigações do caso descrevem possíveis desvios de recursos públicos destinados a fins específicos na gestão do padre Egídio no Hospital Padre Zé, em João Pessoa. As irregularidades também ocorriam no Instituto São José, entidade mantenedora do hospital, e na Ação Social Arquidiocesana (ASA), que também tinham Egídio como responsável.

A investigação aponta para uma absoluta e completa confusão patrimonial entre bens e valores de propriedade das entidades com os bens do padre Egídio. Destaca também uma considerável relação de imóveis atribuídos, aparentemente sem forma lícita de custeio, quase todos de elevado padrão, adornados e reformados com produtos de excelentes marcas de valores agregados altos.

Segundo a investigação as condutas indicam a prática, em princípio, dos delitos de organização criminosa, lavagem de capitais, peculato e falsificação de documentos públicos e privados.

Quando começou a investigação?

A operação ‘Indignus’ foi deflagrada na manhã desta quinta-feira, 5 de outubro, mas as irregularidades no Hospital Padre Zé começaram a ser investigadas quando mais de 100 aparelhos celulares foram furtados da instituição. Esse caso foi tornado público em 20 de setembro. A denúncia, no entanto, foi feita em agosto e imediatamente um inquérito policial foi aberto. Um suspeito, inclusive, chegou a ser preso, mas responde em liberdade e cumpre medidas cautelares.

 

Padre Egídio deixou a direção do hospital logo após a denúncia sobre o furto de celulares. Os celulares foram doados pela Receita Federal, oriundos de apreensões, e seriam vendidos em um bazar solidário para comprar uma ambulância com UTI e um carro para distribuição de alimentos para pessoas em situação de vulnerabilidade.

No desenrolar das investigações do furto, a Arquidiocese da Paraíba anunciou que estava afastando o padre Egídio de qualquer ofício ou encargo eclesiástico. Na prática, ele fica proibido de ministrar missas ou qualquer outro sacramento da igreja.

Após o furto dos celulares, uma denúncia anônima foi apresentada ao Ministério Público da Paraíba apontado uma série de irregularidades na gestão do padre Egídio.

Na terça, 3 de outubro, uma força-tarefa composta por órgãos públicos da Paraíba foi formada para investigar irregularidades no Hospital Padre Zé.

O Hospital Padre Zé, em João Pessoa, afirmou que constatou inúmeras dívidas que comprometem sua funcionalidade após avaliar a situação operacional, funcional, contábil e financeira da instituição. A gestão disse que a primeira providência foi solicitar ao Ministério Público da Paraíba uma ampla auditoria em todas as contas, contratos, convênios e projetos do hospital.

A prisão do padre Egídio de Carvalho

A Justiça da Paraíba expediu três mandados de prisão contra ex-dirigentes do Hospital Padre Zé, de João Pessoa. E um deles é o padre Egídio de Carvalho Neto, ex-diretor da unidade hospitalar, que é suspeito de desvio de verba contra a instituição na ordem de até R$ 140 milhões. Ele foi preso na manhã do dia 17 de novembro.

Outras duas pessoas também foram alvo dos mandados de prisão: a ex-tesoureira da instituição, Amanda Duarte, e a ex-diretora administrativa, Jannyne Dantas.

Os mandados contra elas também foram cumpridos. Amanda vai cumprir prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica, por ter um filho de 4 meses em amamentação exclusiva, enquanto que Jannyne vai ficar no Presídio Júlia Maranhão.

A Justiça da Paraíba manteve a prisão do padre Egídio de Carvalho Neto e das ex-diretoras do Hospital no dia 4 de dezembro.

A defesa de Padre Egídio afirmou que irá recorrer aos Tribunais Superiores e do ponto de vista da defesa, a prisão do padre "nada mais é do que uma verdadeira antecipação de pena , vedada pelo ordenamento processual penal Brasileiro", disse em nota.

Em nota, a defesa de Amanda Duarte e Jannyne Dantas afirmou que a declaração do desembargador apenas esclareceu "pontos obscuros e contraditórios da decisão que decretou a prisão preventiva". "Levaremos os reclames aos tribunais superiores no momento oportuno", informou.



Fonte: espaçopb@gmail.com com G1 PB - Foto: Fantástico/Reprodução

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