Caderneta de Anotações – Albiege Fernandes

Publicado em: 29/10/2024 às 22:25
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Não há dor, nem tristeza. Há sim, novo cenário. As perdas substituídas automaticamente por novos ganhos, ainda que de peso ou de rugas. Ou de lembranças, essas imagens emolduradas que se multiplicam e assustam de vez em quando, sobretudo quando aparecem ao anoitecer.

O que é o dia a dia senão uma vida que se compõe de fatos, por ações ou sonhos, intenções. O cotidiano é a escrita de uma vida, é um baú aberto onde se armazena atitudes, esse lastro que dá suporte ao passado, no futuro. Azeitar as dobradiças da tampa do baú é a ação diária para que não emperrem, fechando as saudades.

As cores preferidas do batom e do esmalte das unhas ficam num compartimento mais acessível do baú, elas dão datas, períodos, de acontecimentos alegres como a dança e as paixões; um maço do cigarro vício do prazer passado, ocupa o espaço ao lado do perfume que você passava na nuca e se transformava na mais poderosa das mulheres. Era uma poção mágica.

Sim, é de magia também que se amálgama uma vida. Ritos de passagem, celebrações, datas comemorativas, tudo isso é magia, epifanias registradas no presente para repercutirem no futuro, quando a experiência já traz o ceticismo colado, inseparavelmente juntos, proibindo os sonhos e dizendo à esperança que ela afaste um pouquinho que é para a realidade se acomodar.

Por aqui, ainda há espaços vazios no baú. Quero muito ter tempo para ocupá-lo por inteiro, com um vestido vermelho, brincos grandes, sapatos confortáveis, lençóis macios e coisas sem muita utilidade prática, mas de grande poder pacificador. E com magia. Preferencialmente.



Fonte: Espaço PB – Foto: Pixabay – Contato: jorgerezende.imprensa@gmail.com

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