Banda paraibana reflete em novo EP o desafio de ficar sozinho na quarentena

Publicado em: 08/12/2021 às 11:20
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Os demônios e dúvidas provocados pela pandemia e a necessidade do autocuidado durante o isolamento social da covid-19 no mundo ambienta o novo EP da banda paraibana Caburé. Em ‘Si-Querência’, o grupo reflete sobre o desafio de se ficar sozinho em quarentena.

“O nome (do EP) nos sugere uma corruptela, uma brincadeira que deriva da flexão verbal ‘se querer’, portanto: se autoquerer, se amar, se tocar, se achar valoroso. Algo como do tipo: ‘tô me achando hoje’, com a autoestima elevadíssima. Me bastando, preenchido e pleno. Sentimos que há no nome a síntese, de uma forma coloquial, quase que um meme, um pixo, um bordão da boemia urbana e jovem para todos os sentidos que as canções do disco tematizam”, explica Titá Moura, um dos vocalistas e letristas da banda.

“Sobretudo essa dimensão do amor próprio tão exigido de nós na pandemia diante da escassez de sociabilização. Acho que o disco narra muito essas questões de desenvolvimento da solitude e o conhecimento de si mesmo, esse lance que a gente busca de sermos nós próprios nossa melhor companhia”, completa.

O disco segue a linha do single já lançado, ‘Dona do Gozo’, que ganhou clipe animado por Yuri da Costa em novembro deste ano e tem como participação especial a conterrânea Val Donato. Na letra, o grupo canta sobre a mulher poderosa e dona de si, dona de seu próprio prazer.

A temática se repete na música em parceria com Conrado Pera, ‘Flor do Boteco’, que também ganhará um videoclipe em breve e a Caburé canta: “preta da quebrada/de dia vende avon/de noite um rolê com as “braba”/causando na luz neon/deusa da boca encarnada/diaba da cor do batom/prima irmã da madrugada/‘ton sur ton’.

Outra canção que nasceu no meio da pandemia foi ‘F5’, também escrita pelo vocalista e trata desses encontros feitos pela internet durante este período. Já ‘Paredão’ é uma música em que se fala da monogamia tóxica, uma romantização do amor, de quando se projeta algo que foi muito pontual em um relacionamento que ainda não existe ou pode não existir, que tem participação especial de Totonho.

“Totonho é uma referência! Um artista próximo à banda e um mestre que a Paraíba consagra pela vanguarda que representou na construção de sua obra. Quando gravamos ‘Paredão’ e entendemos que ela representava uma porção mais experimental do EP, um certo lado B, ficou fácil identificar que havia um discurso ético e estético que Totonho somaria muito como ícone paraibano de formas e conteúdos de desconstrução na música brasileira. Era o espírito buliçoso, inquieto e irreverente de Totonho que precisávamos na canção”, conta o percussionista Pepeu Freire.

A outra participação é de Aila. Destaque na cena paraense, hoje radicada em São Paulo, a artista aparece em ‘Love Story’, composição de Rudá Barreto, guitarrista da banda, uma canção que brinca com as novas tecnologias e novos jeitos de amar da modernidade e que tem “um quê” de brega. “Aila tem um trabalho sonoro que dialoga esteticamente com o nosso e, a partir do contato de Dione Lima, ela chegou de forma muito afetuosa com o trabalho e o resultado ficou incrível”, afirma Rudá.

‘Si-Querência’ é um EP cheio de referências da música latino-americana e afro: “Acreditamos que avançamos em possibilidades de hibridização da música nordestina, ameríndia e latina, confluindo salsa, cumbia, merengue, brega, carimbó, xote, baião, lundu, tudo isso está amalgamado a uma compreensão universal do nosso som com texturas e timbres pops, e a profusão de rítmicas mais ‘afronordestinas’ que a gente explora nas guitarras. Acredito que o resultado é próximo ao ‘inrotulável’, mas facilita pensar que a gente tem olhado pra três pilares de forma pop: música brasileira, música latina e música africana”, conta o baixista Rayan Rodrigues.

O EP foi realizado com recursos da Lei Aldir Blanc, através do edital municipal (Fundo Municipal de Cultura) da Prefeitura de João Pessoa (PMJP), tem produção musical e mixagem de Renato Oliveira, masterização de Bredan Duffey - Davis/CA (Estados Unidos), direção artística de George Glauber e Titá Moura, produção executiva de Dione Lima (Faniquito Produções) e George Glauber; e foi gravado no Gota Sonora, em João Pessoa, capital paraibana.

Com oito anos de carreira, a Caburé é Titá Moura (voz e percussão); Rudá Barreto (voz e guitarra); Rayan Rodrigues (voz e baixo); Pepeu Freire (percussão); George Glauber (bateria), Rhuan Pacheco (voz e guitarra) e ocupa um espaço de destaque na cena musical independente da Paraíba, já tendo se apresentado ao lado de grandes artistas nacionais e locais: Khrystal (RN), Liniker e os Caramelows (SP), Dona Onete (PA), Juanafé (Chile), DuSouto (RN), Escurinho, Seu Pereira e Coletivo 401, Totonho, Nathália Bellar, Val Donato, DJ Cassicobra, DJ Tony Malícia, DJ Ian Medeiros. O primeiro disco do grupo, ‘Manifesto Tropicálido’ (2019), é uma mistura de guitarradas africanas com ritmos tropicais do Norte e Nordeste brasileiro e também sons caribenhos.



Fonte: Espaço PB com Folha de Pernambuco (Juliano Muta) – Foto: Adri L. – Contato: jorgerezende.imprensa@gmail.com

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