Quem se chocou nos últimos meses com os incêndios florestais gigantes (no Brasil e também em Canadá, Espanha, Grécia, Havaí, Itália…), com as guerras (em Etiópia, Palestina, Sudão, Ucrânia…) ou com a crise de refugiados (110 milhões, novo recorde), talvez ainda assim tenha perdido a dimensão da catástrofe global em andamento. 2023 foi o ano em que trechos de rios amazônicos secaram, aquíferos rumaram para o colapso e os mares ferveram.
O Rio Solimões enfrentou a maior seca já registrada em 121 anos. O Amazonas e o Negro também mostraram quedas recorde. Vários fatores roubam a água da região: um El Niño especialmente forte aquecendo o Pacífico, o sumiço de geleiras nos Andes, desmatamento e queimadas. A Amazônia mais seca significa menos umidade para o Brasil – menos água para consumo, agricultura, indústria, geração de energia, navegação nos rios. Esses são apenas sintomas locais de um problema planetário: oceanos, rios e lagos sofrem com a crise climática e o aquecimento global; e sofrem novamente com outras agressões, como despejo de esgoto não tratado, poluição química, poluição por plásticos, consumo excessivo.
A água de que dependemos – doce, limpa e que cai do céu em ciclos previsíveis – torna-se cada vez mais rara. “A água vai se tornar progressivamente mais escassa em regiões onde atualmente é abundante, como África Central, Leste Asiático e partes da América do Sul”, alerta a Unesco em seu relatório 2023 sobre o tema (Water Development Report). Essa crise, porém, tem soluções conhecidas. É necessário consumir água com responsabilidade, preservar e plantar áreas verdes, proteger nascentes, não poluir mananciais. Os dados mostram a gravidade da questão – mas revelam também que já temos parte das respostas necessárias.
– 59% da água se destina à agricultura na maior parte dos países. A parcela global é superior (70%) porque é puxada para cima por grandes produtores agrícolas, como o Brasil
– 5% foi o crescimento na extração global de água dos mananciais para agricultura, entre 2010 e 2018 (dado mais recente da fao). Parcela crescente da água vai para o setor
– 12% foi a queda na extração global de água dos mananciais para a indústria, entre 2010 e 2018. o setor vem se tornando mais eficiente no uso da água
– 3% foi o avanço global da extração de água dos mananciais para uso humano direto, entre 2010 e 2018. isso não acompanhou a demanda – e mais gente sofre com acesso precário à água
A DEGRADAÇÃO DAS ÁGUAS
Resíduos de agrotóxicos e esgoto não tratado multiplicam “zonas mortas” nos mares. A crise do clima e o abuso dos aquíferos ameaçam regiões inteiras
Fonte: espaçopb@gmail.com com Anda - Um Só Planeta - Marcos Coronato Com José Alberto Pereira Gonçalves - Foto: Ilustração | Freepik
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