A natureza deu em 2023 todos os alertas – a humanidade precisa cuidar já da água

Publicado em: 25/01/2024 às 11:55
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Quem se chocou nos últimos meses com os incêndios florestais gigantes (no Brasil e também em Canadá, Espanha, Grécia, Havaí, Itália…), com as guerras (em Etiópia, Palestina, Sudão, Ucrânia…) ou com a crise de refugiados (110 milhões, novo recorde), talvez ainda assim tenha perdido a dimensão da catástrofe global em andamento. 2023 foi o ano em que trechos de rios amazônicos secaram, aquíferos rumaram para o colapso e os mares ferveram.

O Rio Solimões enfrentou a maior seca já registrada em 121 anos. O Amazonas e o Negro também mostraram quedas recorde. Vários fatores roubam a água da região: um El Niño especialmente forte aquecendo o Pacífico, o sumiço de geleiras nos Andes, desmatamento e queimadas. A Amazônia mais seca significa menos umidade para o Brasil – menos água para consumo, agricultura, indústria, geração de energia, navegação nos rios. Esses são apenas sintomas locais de um problema planetário: oceanos, rios e lagos sofrem com a crise climática e o aquecimento global; e sofrem novamente com outras agressões, como despejo de esgoto não tratado, poluição química, poluição por plásticos, consumo excessivo.

A água de que dependemos – doce, limpa e que cai do céu em ciclos previsíveis – torna-se cada vez mais rara. “A água vai se tornar progressivamente mais escassa em regiões onde atualmente é abundante, como África Central, Leste Asiático e partes da América do Sul”, alerta a Unesco em seu relatório 2023 sobre o tema (Water Development Report). Essa crise, porém, tem soluções conhecidas. É necessário consumir água com responsabilidade, preservar e plantar áreas verdes, proteger nascentes, não poluir mananciais. Os dados mostram a gravidade da questão – mas revelam também que já temos parte das respostas necessárias.

– 59% da água se destina à agricultura na maior parte dos países. A parcela global é superior (70%) porque é puxada para cima por grandes produtores agrícolas, como o Brasil
– 5% foi o crescimento na extração global de água dos mananciais para agricultura, entre 2010 e 2018 (dado mais recente da fao). Parcela crescente da água vai para o setor
– 12% foi a queda na extração global de água dos mananciais para a indústria, entre 2010 e 2018. o setor vem se tornando mais eficiente no uso da água
– 3% foi o avanço global da extração de água dos mananciais para uso humano direto, entre 2010 e 2018. isso não acompanhou a demanda – e mais gente sofre com acesso precário à água

A DEGRADAÇÃO DAS ÁGUAS

Resíduos de agrotóxicos e esgoto não tratado multiplicam “zonas mortas” nos mares. A crise do clima e o abuso dos aquíferos ameaçam regiões inteiras

Brasil – Um país mais seco
A superfície de água doce no Brasil encolhe progressivamente. Contamos com menos chuvas e menos degelo dos Andes
– 10 mil km² de superfície de água doce foram perdidos no brasil e em oito países vizinhos, na última década
– 25 municípios do amazonas perderam, cada um, ao menos 100 km2 de superfície de água doce em 12 meses, até setembro de 2023

Mundo
– 21 dos maiores aquíferos da Terra, entre os 37 existentes, estão sendo esgotados. Vários já passaram de pontos de não retorno – não será possível recuperá-los
– 110 ”zonas mortas” (ou hipóxicas, com pouco oxigênio) já foram detectadas nos oceanos. nessas condições, a área se torna um deserto submarino, sem vida
– 3 ºC acima do normal – essa aberração na temperatura da superfície ocorreu em agosto em todos os oceanos. o aquecimento começou em março
– 19 áreas do oceano mostram que há esperança. são antigas zonas mortas que exibem recuperação, graças ao combate local à poluição

INSEGURANÇA GLOBAL

A maior parte dos países mais populosos do mundo se sai mal na avaliação da ONU sobre disponibilidade de água

O relatório Global Water Security 2023 Assessment avaliou 186 países em dez critérios relacionados a água. A cada critério é atribuída uma pontuação, numa escala de zero a cem, apresentada de forma gráfica nas barras em cores. O estudo é conduzido pela Universidade das Nações Unidas (UNU), braço acadêmico da ONU

– 2,8 bilhões de pessoas, porém, continuarão sem acesso a serviços de esgoto em 2030, nesse cenário
– 33 países apenas, entre 186 avaliados pela ONU, oferecem serviço de esgoto à população inteira
– 6% ao ano é o ritmo de expansão da capacidade global de dessalinização. Em anos fortes, o ritmo vai a 12%
– 1% das usinas de dessalinização do mundo usa energia limpa – e o setor consome muito combustível



Fonte: espaçopb@gmail.com com Anda - Um Só Planeta - Marcos Coronato Com José Alberto Pereira Gonçalves - Foto: Ilustração | Freepik

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