2021 é o centenário de Zuzu Angel, morta há 45 anos pela ditadura militar

Publicado em: 14/04/2021 às 05:10
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Há 45 anos, exatamente na madrugada do dia 14 de abril de 1976, dois paraibanos – o empresário e comunicador Neno Rabello (morto em 2016) e o advogado Marcos Pires – eram as testemunhas oculares da morte da estilista brasileira Zuzu Angel. Ela foi vítima do regime militar que, até então, expunha para o mundo as barbaridades cometidas pela ditadura brasileira, enquanto buscava e cobrava das autoridades da época explicações sobre os culpados e o paradeiro do corpo do seu filho, assassinado pelos detentores do golpe de 1964.

Zuzu incomodava a ditadura que tentou silenciá-la com sua morte, aos 54 anos, ocorrida em um acidente de carro na Estrada da Gávea (Estrada Lagoa-Barra), na saída do Túnel Dois Irmãos, no Rio de Janeiro, hoje batizado com seu nome. O carro dirigido pela estilista, um Karmann Ghia TC, derrapou na saída do túnel e saiu da pista, chocou-se contra a mureta de proteção, capotando e caindo na estrada abaixo, matando-a instantaneamente. Anos mais tarde, o testemunho dos dois paraibanos esclareceu o acidente, provocado propositalmente por um outro veículo sem identificação.

Uma semana antes do acidente, Zuzu deixara na residência do cantor e compositor Chico Buarque de Hollanda um documento que deveria ser publicado caso algo lhe acontecesse, em que escreveu: “Se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho”.

Em 1998, a Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos julgou o caso e reconheceu-a como pessoa que, “por ter participado, ou por ter sido acusada de participação, em atividades políticas, tenha falecido por causas não-naturais, em dependências policiais ou assemelhadas”. Em seu relatório final publicado em 2007, a Comissão inseriu os depoimentos de Neno Rabello e Marcos Pires. Eles afirmaram ter visto o carro de Zuzu ter sido fechado por outro e jogado fora da pista, caindo de uma altura de cerca de cinco metros.

Zuleika de Souza Netto, a Zuzu Angel, nasceu a 5 de junho de 1921 (este ano marca o centenário do seu nascimento), na cidade mineira de Curvelo. Tornou-se uma personagem notória do Brasil da época da ditadura militar, ficando conhecida nacional e internacionalmente não apenas por seu trabalho inovador como estilista de moda, mas também por sua procura pelo filho, Stuart Angel, assassinado pelo governo militar (hoje tão defendido pelos seguidores do atual presidente Jair Bolsonaro – sem partido). Stuart foi considerado desaparecido político, resultado da coragem de sua mãe no enfrentamento às autoridades da época.

Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade recebeu de Cláudio Antônio Guerra, ex-agente da repressão que operou como delegado do Departamento de Ordem Política e Social do Espírito Santo (Dops), a confirmação da participação dos agentes da repressão na morte de Angel.

Em 2019, sua filha, a jornalista Hildegard Angel, se dirigiu ao 8º Cartório do Registro Civil da Tijuca, na Zona Norte do Rio de Janeiro, com um mandado judicial, e conseguiu finalmente emitir as certidões de óbito de sua mãe, Zuleika, e de seu irmão, Stuart. As causas das mortes foram atestadas como “morte não natural, violenta, causada pelo estado brasileiro, no contexto da perseguição sistêmica e generalizada à população identificada como opositora política ao regime ditatorial de 1964 a 1985”.



Fonte: Espaço PB - Jorge Rezende (jornal A União) – Foto: Wikipédia – contato@espacopb.com.br

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