Opinião – Pau no lombo do “herói invisível”: o revisor – Jorge Rezende

Publicado em: 28/07/2022 às 21:55
Foto

De todas as inúmeras funções e atividades desenvolvidas dentro de uma redação jornalística de um veículo impresso – jornais e revistas –, sempre tive um apreço especial pelo trabalho do revisor – aquele profissional encarregado da revisão final de textos das páginas que, já compostas (diagramadas e editadas), são encaminhadas para as impressoras da oficina. Ou seja: o revisor – ou a revisora – é o principal elemento de controle de qualidade numa linha de produção industrial de um jornal, uma revista ou de qualquer outro material impresso de uma editora, uma gráfica ou veículo de comunicação.

E sempre considerei o revisor um dos profissionais mais injustiçados de uma redação de jornal. Esse meu pensamento foi construído por meio de observações e também por vivenciar fatos ocorridos naqueles jornais por onde tive a oportunidade de atuar. O revisor é aquele “herói invisível” que evita e corrige os erros de todos, evitando contratempos e até absurdos e constrangimentos ao veículo a quem serve. Ele – ou ela – pode consertar mil erros, mas basta deixar passar apenas um, por descuido, cansaço, ato-falho ou qualquer outra coisa, que o sujeito é logo “lembrado” pelos chefes e patrões. Pode ser de quem for, mas a culpa pelo erro sempre recai sobre o revisor. Ele passa de herói a vilão num piscar de olhos. Como se diz: é pau no lombo.

O meu carinho pelo setor da revisão nos impressos se deve a muita coisa. Primeiro, acho que estou aqui “legislando em causa própria”. É que, apesar de ter iniciado a minha vida na imprensa paraibana “meio metido à besta”, no dia 8 de agosto de 1989, como colunista do falecido jornal O Combate, de Jório Machado – o editor-geral era Oduvaldo Batista –, o meu primeiro emprego de carteira assinada, em dezembro de 1991, foi no hoje extinto jornal Correio da Paraíba. E em qual função? Claro, a de revisor.

Ainda estudante do Curso de Comunicação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), fazer parte da equipe de revisores do Correio da Paraíba foi uma das melhores coisas que me aconteceu na profissão. Depois do diploma acadêmico, considero ter feito um segundo curso ao ter “iniciado” como revisor. Foi uma escola pra mim e vivenciei todas as nuances e agruras da vida de uma redação de jornal. E foi numa época sem internet, sem telefones celulares, sem os googles da vida, em que você entrava no jornal às cinco da tarde e não sabia quando retornaria pra casa – com sorte, chegava de volta ao lar por volta das duas da manhã. Uma época dura, de salários ainda mais aviltantes, mas de aprendizado intenso para a vida de jornalista.

Voltando aos motivos do meu carinho e apreço aos revisores, acho que também se deve aos colegas extraordinários que conheci e com que pude conviver. A equipe do Correio da Paraíba era nota dez, sem exageros. Era composta por quatorze revisores (dois homens e doze mulheres). Metade era de professores de Letras, de História, de Geografia..., a exemplo de Lúcia (não me lembro do sobrenome), Madriana Feitosa (hoje Nóbrega) e Jairo Osias (irmão de Sílvio Osias); a outra “banda” era de jornalistas, como Socorro Costa (esposa de Edson Weber) e Gherton (também não me lembro do sobrenome e nem por onde anda). Isso sem falar em Nalva Figueiredo, que depois do fim da equipe de revisão, passou a ser arquivista e, mais tarde, uma exímia repórter-fotográfica.

Hoje, o “herói da resistência” jornal A União é o único impresso no estado da Paraíba e – viva! – mantém a tradição e “o juízo” de preservar sua equipe de revisores – de forma reduzida, mas mantém. Uma equipe formada “pela novata” Jaqueline Santos e pelos veteranos Antônio Moraes e Gisélia Chaves. Aliás, no caso de Moraes, põe veterano nisso. Prestes a completar 68 anos de idade, está há 44 anos em A União. Chegou à revisão do jornal ainda como um “saltitante” rapazinho de 24 anos, no dia 1º de junho de 1978. Uma referência para todos os revisores da imprensa paraibana.

E só para ilustrar, muita gente de destaque na imprensa da Paraíba começou como revisor, a exemplo do cronista, jornalista e escritor Gonzaga Rodrigues; o hoje secretário da Comunicação do Governo do Estado, Nonato Bandeira; e Emmanuel Noronha, nosso colega de redação e editor setorial em A União.



Fonte: Publicado originalmente na edição do dia 24 de julho de 2022, no Caderno Almanaque, do jornal A União – Foto: Renato Alves – Contato: jorgerezende.imprensa@gmail.com

Comentários: