
Aos 11 anos, já havia me decidido: quando crescesse, seria poeta, escritor e jornalista. Poeta, até tentei. Influenciado pelas leituras dos textos de Darcy Brasil (poeta maior da minha Três Corações) e de Plínio Motta de Rezende (um primo de minha mãe da cidade de Campanha), eu não queria pouca coisa, não! Não era qualquer poesia ou versinhos reunidos. Meu negócio era construir musicalidade poética e rimas com classe, no campo do lírico, do épico e do narrativo, levando a métrica a sério. De preferência sonetos... Minha pretensão esbarrou na constatação de que não me bastava vontade e esforço hercúleo ao redigir uma poesia clássica... Percebi que não tinha talento para o mundo de Castro Alves e Augusto dos Anjos. Então, risquei esse sonho do meu caderninho.
Escritor... Tento há anos... Para se ter uma ideia, venho “escrevendo” seis livros ao mesmo tempo há mais de 25 anos... E não termino nenhum. Isso sem contar as ideias e projetos que persistem em brotar da minha cabeça. Tudo inconcluído. A única “obra” concretizada, em 1996, foi ‘Imprensa de cada um: quinze anos depois’, resultado do projeto do fim do Curso de Comunicação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – que hoje receberia o nome de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Publicado pela Editora Universitária, da UFPB, o livro me abriga como coautor ao lado da amiga Nara Valuska, uma das mais competentes jornalistas da Paraíba. Então, minha pretensão como escritor ainda passa ao largo...
Restou contentar-me só como jornalista. Queria ser jornalista para ficar “rico e famoso”. Hoje, constato que continuo pobre e desconhecido, mas feliz e realizado, sim! Um pobre jornalista satisfeito por ter passado por várias redações da comunicação paraibana e ser “famoso” entre os tantos de amigos e amigas que pude angariar nesses quase 37 anos de labuta. E para ser jornalista, tive minha “musa inspiradora”: a prima – também tricordiana – Leila Rezende dos Reis, mais conhecida como Leila Reis. Ela já era jornalista quando me dei por gente. Sentia um orgulho danado em dizer para todo mundo que minha prima era jornalista, com passagens, por exemplo, pelo Estadão e em assessorias de alto nível, como na Ondeo Nalco Company, uma espécie francesa da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa). Especializada em assuntos da tevê, Leila foi editora das revistas Contigo, Victória (de propriedade da dupla Chico Anysio e Zélia Cardoso de Mello) e do Flamengo (na época de Kléber Leite), entre outras tantas atividades.
Voltando à minha determinação dos 11 anos, sonhava não ser apenas um jornalista, mas um dia ser dono de um jornal. Planejava fundar o meu próprio diário na cidade de Três Corações. O tempo passou, cresci, saí do meu berço, me formei em Jornalismo na Paraíba e por aqui fiquei. Todavia, em 1998, resolvi voltar para minha terra e ainda com a ideia de criar um matutino. Bastou poucos dias para desistir do sonho. Percebi que meus conterrâneos se interessavam mais por boatos e histórias “fantásticas” do que em fatos jornalísticos contundentes. Ou seja: com o “meu jornal” noticioso, estaria fadado a falir, morrer de fome. Ou para sobreviver, fundaria o matutino “O Boato”.
Tive que sair da minha cidade e tempos depois voltar para perceber comportamentos culturais que antes não me atinava. Típico de uma cidade do interior, grande parte dos meus conterrâneos mineiros prefere (pelo menos era o que acontecia no final dos anos de 1990) acreditar em histórias de lobisomem e de disco voador do que se interessar, por exemplo, pelas ações dos vereadores e do prefeito em prol do desenvolvimento socioeconômico da cidade.
Pude constatar esse comportamento com os meus próprios olhos e ouvidos. Houve um episódio interessante. Surgiu um comentário na cidade que uma mulher, moradora do Bairro São Jerônimo, estava, de tempos em tempos, se transformando em capeta. E, por isso, ela teria sido levada presa para a cadeia do quartel do Exército. Foi impressionante: quase um quarto dos moradores, em protesto e por curiosidade, foi para frente do quartel da Escola de Sargentos das Armas (ESA) exigir que os militares “exibissem” a mulher-capeta. Isso durou alguns dias. Mesmo sob súplicas e apelos do comandante e do capelão da unidade militar, dizendo à multidão que fosse pra casa e que não havia nenhuma mulher virando capeta no quartel, as pessoas não arredavam o pé. Havia até quem jurava estar “escutando” os berros da capeta vindos da cela que se localizava próximo ao corpo da guarda.
Foi difícil, mas, com o tempo, a multidão desistiu do espetáculo. E eu desisti de vez da empreitada jornalística na minha cidade. Voltei para a Paraíba nove meses depois.
Fonte: Espaço PB com jornal A União (texto originalmente publicado na seção Memorial, da edição do dia 18 de março de 2025) – Foto: Pixabay – Contato: jorgerezende.imprensa@gmail.com
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